
Tem outro tipo que canta como se fosse um sapo tentando
acasalar a sua amada “ A murhi wa makondlo hi lohu” (O veneno de rato está aqui.)
-vai cantando. Vão desculpar-me pela tradução. Sou uma das últimas pessoas que
menos pode se indicar para fazer uma tradução deste tipo de escritos. Não fui
ensinado na escola, tive que fazer os meus apanhados. Lá dentro, nas entranhas
do mercado encontras de tudo, desde xicalamidade (roupa usada) até ao remedio
tradicional como vula vatleca que outrora era usado nos torneiros de futebol da
zona. Há quem diga que dava efeito na hora do jogo. Cá comigo não sei, tenho
minhas dúvidas.
O barrulho nestas bandas do mercado é intenso. Tem que se
estar preparado para qualquer eventualidade. De repente, ouve-se alguém a
chorar “me roubaram dinheiro ”-grita uma das senhoras. Uma multidão se concentra
para averiguar o que aconteceu e por outra obter alguma coisa para contar lá na
povoação de origem. Um jovem é pego “hi yena lwei” acusa uma voz comparada a de
um Perú. Pontapeadas, sovadas, chineladas, até makofadas servem para drenar a fúria
e não ter vendido nada abaixo de sol para o outro vir roubar a custo zero. “Yowe,
yowe” Chora um acusado que pode ser inocente. Basta usar uma roupa não
organizada para vestir o rótulo de um ladrão. Nesse instante, chega a polícia.
Alastra o homem para uma esquina atrás das bancas de pau, é subornada, por fim
o homem é solto e desaparece como a fumaça inimiga do vento. A polícia a solta
como cães rafeiros continua a farejar encrencas para ver se apanha um osso de
cada dia.
A noite chega. A luz despede-se. O mercado veste-se de uma
nova cortina humana repleta de sangue novo. As recentes profissões começam a
ganhar espaço. No lugar das verduras, entram as espetadas de várias carnes
desde o frango, magumba assada até aos chouriços.
O carro logo ao sair do parque, o cobrador avisa: “melhor
não mexer os telefones e fechar as janelas”. Enquanto o cobrador fala uma moça é
arrancada o telefone. Pela velocidade da luz que o assalto ocorreu, ela nem acredita
no que aconteceu. Para uns dez segundos. Nesse tempo o ladrão está a um passeio
do local do roubo. “Roubaram-me o telefone” grita a menina desesperada. Não há nada
a fazer. O ladrão como um camaleão vestiu a cor de um inocente. Ninguém é capaz
de o identificar. Mas também com o medo que todo mundo sente ninguém se arrisca
a perder a vida com os guadjissas de Xiquelene.
Assim o dia passa. As pessoas se trocam, mas as peripécias
de Xiquelene continuam a fazer estórias nas novelas da vida da gente. Não há
como acabar com isto. É assim como o sistema funciona desde quando nasci. Os problemas
desse mercado são estruturais. Já tem barba branca. Desta forma terminam as peripécias
de Xiquele.
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