quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A noite do funeral dos gatos





Era numa noite de intenso calor. As chapas do quarto haviam bebido muita quentura durante o dia, mas também, a temperatura rondava os seus trinta e tal graus na casa dos quarenta. Rebolava na cama, suava os sovacos, limpava o rosto e não apanhava sono. Foi nesse momento, que tive a ideia de ligar a televisão, mas tive que desliga-la por conta do filme assustador que estavam a dar.
A noite ainda era miúda, não havia viajado nem a metade da hora mais temida pelos homens e pelas criaturas viventes que volteiam a terra. De repente lá de fora houve um barrulho que chegava aos meus ouvidos bem fininho como a chuva caindo em gotas. Vinha lá do murro do quarteirão. Por vezes ignorava que nada ouvia. Mas na medida em que o tempo passava, o barrulho se acentuava. Daí, decide sair de modo a ver o que se passava. O medo avassalou os meus sentidos, senti um gelado na barriga, o estômago começou a embrulhar, a pele começou a arrepiar e suei. Os poros tiravam um suor quente, parecia água fervida que usada para depenar as galinhas.
Desiste de sair, mas, a curiosidade atentou o coração frágil composto de sangue e carne que não resiste a um mistério sedutor. Decidi abrir o quarto, comecei a andar, levado pelo vento, guiado pela curiosidade e tentado pelo medo de voltar.
Não lembro como, apenas sei que de repente havia chegado na esquina do quarteirão, onde tem-se feito as reuniões da zona.
Eis que o inesperado aconteceu. Debaixo da mangueira onde os madoda (chefes) ficam para resolver os problemas da zona, havia gatos a cantar de um lado para o outro “Yowe yoye, mamané, yo” gritavam. Juro que apaguei por algum instante, não acreditava no que estava a ver. Parecia que era um sonho. Fechei os olhos para ver se acordava, voltei a abrir e tudo era real. Acreditei, parei para contemplar o que se passava.
A cena comparava-se com uma cerimonia fúnebre dos humanos, mas na versão dos gatos. Eram cerca de vinte gatos jovens e adultos parados imitando movimentos de humanos quando andam. Cantarolavam os seus cantos com os membros (patas) inferiores assentados no chão e os membros superiores suspensos, abertos como se tivessem a espera de receber alguma coisa. No meio destes, havia um gato estatelado no chão. Parecia que estava morto e todos choravam a sua volta. Lágrimas começaram a minguar do rosto, era como se da morte de um ser humano se tratasse
Quando o sol começou a espreitar, os gatos voltaram a sua posição normal de gato, cada um corria para o seu lado como se de chuva se tratasse. Há quem diga que a magia só acontece a noite.
Depois de se terem dispersado, cheguei perto do gato que estava morto e estatelado no chão para poder ter a certeza do que vi. Quando toquei no animal, vi que tudo era real. Duas lagrimas secas começaram a cair do olho esquerdo. Algumas pessoas chegaram perto para saber do que é que se passava e ninguém acreditava no que eu contava. Fiquei tão transtornado que vim-me embora para casa. Deitei na cama e comecei a me questionar porque é que as pessoas maltratam os seus animais? Será que pensam que eles também têm dor?
 Daí cheguei a conclusão de que nunca mais iria comer carne de qualquer que seja o animal e abracei a minha gatinha que parecia que entendia a tristeza que habitava a minha alma.

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