Se eu voltasse atrás na minha infância reluzente. Naquela
puerícia rebelde e inocente, onde as brincadeiras não tinham tempo para findar.
Aquele tempo em que a noite era uma eterna ansiedade, aguardando a chegada do
outro dia que não acabava na noite interminável. Se eu pudesse, voltava naquele
tempo em que o céu azul podia pairar sobre as nossas cabeças, onde a trovoada
podia levantar-me e me levar para onde ela nasce. São esses tempos que
emocionam de recordar. Os tempos passados.
Queria poder voltar naquele tempo em que o medo em mim
não tinha lugar. Onde o dia só nascia para nadar no viveiro, depois roubar
manguinhas e come-los com sal a gosto. Voltaria também naquele dia quente que estreei
o meu primeiro biquinho comprado a quinze meticais da antiga família do
metical, ou naquele dia em que comprei chinelos e tive que enterra-los no areal
de modo a que não fossem roubados naquela praia infestada de gente, entre
casais, moluenes e maziones que queriam purificar as suas almas com a água do mar.
Podia também voltar aos encontrões que tive de realizar
na tentativa de conquistar o primeiro amor da minha vida que nunca tive. Mas só
a tive nas noites, nos meus sonhos molhados da adolescência. Apesar de nunca a
ter possuído nos meus braços existenciais. Com ela passei grandes momentos maravilhosos
sem comparação. Aprendi muito com aquela experiencia. Pude perceber que não é só
sexo que importa numa relação, mas sim, a amizade sincera e companheira.
Gostaria de retroceder o tempo e correr com o Xinguerenguere
naquele dia chuvoso onde gotícula de combustível de carros se misturava com a água
da chuva que depois a poluía. Lembro da explicação que meu vizinho Matxenguene
dava para aquela combinação provocada pela mãe natureza com os feitos humanos-
“Não podemos pisar aquela gota, pois ao pisarmos, podemos entrar naquela pinga
e nunca mais voltar a sair.- Explicava”
Sabe, não lembro quando é que deixei de ser criança, de
gozar daquela inocência luzente e sincera. Por isso até hoje as pessoas me têm achado
cheio de brincadeiras e as vezes pouco sério porque não quero crescer e deixar
a criança que tem dentro de mim sair. Neste aspecto, lembro do Dércio quando
evocava o seu ditado, não sei de onde o extraiu “O importante é crescer, mas nunca
deixar a criança que tem dentro de nos sair.”
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