Quem nunca teve uma
avó nesta vida, dificilmente vai entender a coisa extraordinária que essas
pessoas são. Por outro lado, as poucas pessoas como eu que tive a sorte de
conhecer fisicamente a mãe da minha mãe vão compreender facilmente as emoções
que estou a aqui a descrever e os prazeres que pude experimentar.
Em primeiro lugar,
quando começo a escrever sobre a minha querida avozinha, lembro da sua casinha
de caniço e do quintal bem cuidado cheio de areal e xipinhosa verde exibindo o
tratamento nobilitado que recebia das mãos bem cuidadas daquela mulher
especial. Dentro da sua casinha humilde havia poucos artigos, mas que não
deixavam de dar aquele toque especial naquele espaço pequeno concebido para uma
a duas pessoas. Tinha um ralador que denunciava velhice como a minha avó. Na
entrada, havia um armário de madeira sem vidro e dentro da mesma não tinha mais
que dez pratos de vidro e três copos de metal, mas tudo bem limpinho. A cozinha
era um improviso das folhas do coqueiro imponente que beijava o céu no meio do
terreno. Na mesma, a avozinha fazia a matapa, feijoada e um arroz de coco.
Tinha mãos mágicas que davam aos seus comeretes um gosto tão especial que não
se compara a nenhum outro sabor deste mundo. Para se iluminar, o Xiphefu dava a
conta do recado. Naquele tempo eu ainda não tinha habilidades para ler. Por
isso, o único livro que possuía eram as histórias que a minha avó contava sobre
a sua vida em Homoine com os seus irmãos como o vovô Benjamim. Este personagem
não falta nas suas histórias. Ela conta que naquelas bandas onde vivia em
Inhambane, nos tempos da guerra teria tombado no meio do caminho estreito um
soldado que não teve parente para reivindicar pelo seu corpo perfurado por um
punhal dos inimigos. Por isso, ele tornou-se um espírito vagabundo, uma alma
penada, um xipoco que nas noites vestia a sua roupa de soldado e assustava as
pessoas. Madala Benjamim, bebia muita sura que lhe dava uma coragem sobre
humana que por seu turno dava- lhe uma bravura que até podia desafiar o próprio
diabo e muito menos o próprio xipoco que fazia assustar as pessoas. Por isso,
uma certa vez foi beber a sua sura e deambulou pelo caminho do xipoco a altas
horas. A alma penada, trajada de soldado, sem cara e com um buraco nas costas
começou a assustar o Benjamim. Com a sua audácia de Leão ripostou: “Me deixe ir
para casa. Estas a querer me assustar porquê? Não fui eu que o matei, por isso
vai assustar os que te tiraram a vida e não a mim.” Graças a sua coragem a
lenda da alma penada desapareceu naquelas terras e Benjamim tornou-se herói.
Gostava muito de
visitar a minha avó, ela me tratava de um jeito tão especial. Quando entardecia
me dava banho com o sabão xiguema e xissacane de saquinho de cebola que
comprava no mercadinho próximo de casa. Às tardes, como a casa da vovó estava
próxima da costa do indico, eu saia fora da mesma para ver o entardecer, o sol
avermelhado a colorir o céu azul vestido de nuvens que se preparavam para
rasgar as vozes e deixar cair a chuva que em gotas beijava as chapas fazendo um
barulho animador em consonância com o solo animava os meus ouvidos.
O tempo passou, eu
cresci e a avó nunca deixou de me ter como seu neto amado e protegido. Até hoje
na casa dos trinta a velhinha quando vem visitar os meus pais e toda a família
compra pipocas de um metical para as minhas sobrinhas e, sem esquecer do seu
netinho amado (eu claro). Não tenho negado a oferta da minha avozinha, também
aos olhos da avó a gente nunca cresci.
São várias coisas
que eu podia contar sobre a minha querida avó. Mas por hoje é tudo. Também
muita informação ao mesmo tempo pode não fazer bem a saúde da mente. Por isso
vou contar em fragmentos bem doseadas a história da minha relação com a querida
avó. Pena dos que acusam as suas avós de feitiçaria, não terão nada para
contar!
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