O meu dia não
começou bem. Para agravar o cenário, depois dos treinos intensos de ontem, não
consegui apanhar sono. Rebolei durante toda a noite na cama como se fosse uma
maria café tentando atravessar uma estrada alcatroada.
Acordei bem cedo, como tem sido habitual. De novo fui
treinar. Na minha volta, comecei a organizar o quarto. Enquanto isso, por outro
lado, punha a água fria do tambor para lavar a minha pele quente que ainda
transpirava o suor fedido do ginásio. Chegou a hora de vestir. Como estava na
presença de Chiquito que é um miúdo que tem frequentado a minha casa e vem
quase todas as manhãs para lhe deixar as chaves de um assunto que não importa
aqui referir, me ajudou a por a calça mais usual para o ambiente de trabalho.
Tenho as vezes precaução com relação a roupa, apesar de que no meu serviço não
tem relevância a questão das vestimentas. Eles avaliam o perfil da pessoa e não
a roupa que usa. Também, o ditado diz tudo “Nem sempre a capa define o
conteúdo, os olhos que vêm o corpo não vêm a alma”
Depois do banho e com a certeza de que havia trancado a
porta de onde durmo, fui despedir-me da minha irmã e da minha sobrinha que
estavam na varanda. Os meus pais haviam saído logo cedo para irem trabalhar
como eu estava a fazer. Sai à rua, cumprimentei o Chandinho, que é um miudinho
dos seus dez a doze anos de idade. Sempre que me vem, pergunta quando é que
vamos treinar. Os treinos que faço no quintal de casa tem inspirado muitas
crianças para gostarem de karate “pena que na zona não há ginásios!” Cheguei na
paragem. Aguardei a chegada de um carro que pudesse levar-me ao destino. Para a
minha agonia, nada de chapa. Os que ali passavam estavam bastante lotados, nem
havia espaço para uma mosca respirar.
Em fim, depois da longa espera apareceu um carro que aos
meus olhos de ver ainda havia um espaço para a gente se apertar. Tola ilusão!
Na ganancia de ocupar o melhor lugar, todo mundo correu para a entrada, eu
também não fugi a regra. Corri para a luta. Na tentativa desesperada esqueci-me
de que a porta tinha o seu teto pontudo e fininho. Empurrei meu corpo para cima
com toda a forca, fui dar-me com a cabeça oca com a porta. Senti o pescoço a
torcer, foi ai que compreendi a gravidade do cenário. Quando queria girar a
cabeça em torno do corpo, esta não aceitava os meus comandos, estava
descomandada. A dor nesse momento avassalou o meu corpo, senti um aperto
profundo na coluna e, nesse mesmo instante, vontade não me faltou de voltar
para casa. Mas o dever patriótico me chamava à razão. Só trabalhando é que a gente
vai fazer o nosso Moçambique crescer. Por isso, arregacei as mangas e continuei
a viagem rumo a mais uma batalha laboral para no final do dia voltar com o pão
e a minha família alegrar.
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