Não faltava muito para o “my love” (camião que transporta gente) encher. Contudo, o apelo do cobrador para que as pessoas entrassem dentro do mesmo parecia que este estivesse ainda vazio. No rosto daquela multidão de gente repleta de cansaço residia a esperança de chegar a casa e a família reviver. O cobrador subiu na cabine de modo a orientar as pessoas para que se apertassem um pouco mais:
-Sinhonra vinra pra dreita e aperta esse jove- dizia o
cobrador – essas minina paga, se nõ quer andar deci, nõ babo ninguém yeu-
continuou.
Parecia que estava a lidar com bois ou vascas. É assim
como se tem comparado as pessoas que sobem este tipo de carros. Por sua vez, as
pessoas que estavam dentro do camião se encontravam bastante cansadas, por
isso, não queriam pesar forças com ele, muito menos esgotar as energias gastas
durante o dia.
O my love encheu. Não havia espaço nem para uma mosca
respirar. As gentes ai empilhadas pareciam cardume na latinha. Mesmo assim, o
motorista arrancou o carro abarrotado de almas humanas, de mães e pais, de pais
e filhos. Saiu do parque. Desviou aquelas senhoras de xidjumba de
xicalamidades. Logo ao desviar, parecia que ia virar. O medo comeu o coração de
toda a gente que em consonância gritou
- ho lava ku hi dlaya ke?(nos quer matar?) - gritavam as
pessoas dentro do carro
Contudo, não havia mais volta. Uma vez dentro não havia
como descer. Não há outra alternativa. É o embalo sem retorno. Nestes momentos,
nada sabe melhor que um bom papo.
-Apesar de viajar assim, gosto de subir o my love. Aqui
ninguém é e ninguém. Se você tem marido ou mulher vale a pena ficar em casa-
falava um jovem, que mostrava-se bastante animado- Estas a ver eu, deixo que me
peguem, por isso eu também pego- continuava.
-Você sobe aqui para aproveitar as pessoas. Se houvesse
minha mulher aqui e você a pegasse, juro que te mascava com os dedos- respondia
um jovem mais alto e forte que o primeiro.
Um riso ecoou no carro. O jovem aproveitador limpou-se com
o braço esquerdo e abraçou o silêncio da boca que tão pouco começou a queixar a
cebola comida durante o almoço. Depois do riso, houve uma relativa calma.
Enquanto isso, o veículo deslizava a Julyus Nherere. Doutro
lado, quase na cabeça do carro, tinha um jovem calmo de jaqueta preta que
deixava espreitar uma camisa branca. O seu rosto refletia uma calma serena e
cara de quem poupa as palavras. A frente deste jovem havia um outro jovem, na
casa de ser chamado de senhor. Contrastava com o jovem ora descrito. Falava a
todo momento, dirigia a palavra a quem não a quisesse comprar e soltava um
sorriso vulgar, daqueles que se encontrão em mercados e em locais onde se vende
mal coado. Entre o jovem sereno e o outro menos calmo, estava uma outra moça
que esbanjava bastante simplicidade e humildade.
-Tens que levantar as mãos, pegar assim. Estas a ver como
eu pego?- Falava o jovem esquisito para a menina humilde.
Ela começou a sorrir, longe do que estava a acontecer.
Dentro dela se podia ler alguma coisa que dizia “que bom samaritano”. Assim, a
viagem prosseguia. Quando passava a zona de Hulene expresso, eis que o insólito
acontece: uma chapada, um soco. Enquanto o jovem estranho tentava abrir a boca
para se defender já que era a única coisa que podia usar, mais socos choviam ao
seu rosto. Ninguém entendia nada, daquele acontecimento súbito.
- Pega minha camisa- falava para a jovem menina humilde
que antes sorrira para o jovem que estava a molhar de socos.
Sangue por todo o lado. Uma cabeçada e o sangue tinge
algumas pessoas dentro do carro. O motorista parra, tirando a cabeça de modo a
entender o que se passava, qual era a razão daquela algazarra toda.
-Afinal o que se passa?- perguntava aos viajantes.
Ninguém se dignou a responder. Ninguém sabia de nada.
-Esse tipo andava a dizer todo mundo para levantar as
mãos, enquanto isso, metia as mãos na carteira. Pegou bolsa da minha
namorada-explicou o jovem calmo.
Afinal aquela miúda meiga era namorada desse jovem
valente e sereno? O ladrão sorridente ainda se ressentido dos socos e das cabeçadas
dadas perguntou:
- Afinal o que foi que fiz? Estou a levar purrada em vão porquê?
Enquanto falava, a carteira que pesava o seu bolso caiu
aos olhos de toda a gente e ele tentava fingir como se de si não tivesse saído.
-Não esta aqui a carteira?
Um outro senho que teria visto quando ele deixava a
carteira sair do seu bolso, esticou uma chapada no seu rosto.
-Acha que não o vimos? Queres continuar a fingir?
Quase que era linchado. Uma senhora que estava a assistir
tudo calada advertiu a todo mundo
- Não vamos fazer isso, assim vão mata-lo e sujar as
vossas mãos. Por favor não façam isso.
Enquanto aquela senhora falava, o ladrão descia de
mansinho e entre o engarrafamento desaparecia embebedado pelos carros que regressavam
as suas casas. O carro arrancou e dali desapareceu ficando a poeira daquela confusão
criada e, acredita-se que este conto teria girado em torno das casas dos
ocupantes daquele caro durante toda a semana e mais algumas noites..
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