Nas tardes,
no quintal da minha casa de caniço brincava de voar. Sobre a relva rica e verde
sonhava com a vida de adulto que um dia me tornaria. Não sabia que aquela magia
ia desvanecer em meio ao sofrimento. Lembro que uma certa tarde, sem que
ninguém me visse, abri as mãos, senti o vento me entranhar e me deixei elevar.
Dei giros e giros fugindo do chão. Me senti feliz, realizado. Não queria sentir
mais outra coisa fora aquela sensação sumptuosa de voar.
O tempo passou,
deixei de acreditar, de sonhar e de voar. Os dias tornaram- se negros e as
noites mais escuras e tenebrosas. Todos pesadelos chegaram com o seu fardo
pesado. Nos dias que correm, já não existe aquela relva verde na qual pisava e
voava. No seu lugar uma casa ergueu-se e tampou a energia e a magia que aquela
terra me transmitia.
As vezes
quando a solidão chega e me avassala, tranco-me no quarto e medito, volto ao
passado. Naquele tempo onde tudo era possível.
Quando saio
a rua não me canso de contar essa mesma estória. Vejo nos olhos das pessoas com
as almas cegas que não acreditam no meu conto, elas descontam as minhas
palavras. Mas nem com isso deixo de lembrar da minha inocente infância quando
voava sobre o quintal da minha casa.
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