segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Momentos de pai e filha


Sentei na cadeira, a peguei e coloquei nos braços. Nesse momento senti uma conexão inexplicável, é como se eu existisse num outro corpo, como se uma metade minha estivesse residindo em outra pessoa. Com ímpeto, penetrante olhou nos meus olhos como se quisesse dizer alguma coisa. Apesar de ela não poder falar verbalmente, todavia, senti uma coisa muito profunda na sua contemplação, um olhar fixo e sincero. Ficamos nos observando por um tempo incomensurável. Fui capaz de perceber a confiança que ela sentia nos meus braços de pai, apesar da sua incapacidade de proferir qualquer palavra através verbalmente. Era o reconhecimento do amor que estaria recebendo, colada a aqueles braços que sustentavam seu corpo pequeno de menina. Bocejou, virou a cara, tocou no meu rosto redondo. Nesse mesmo instante, senti uma coisa relaxante, extraordinária, uma paz interior, um sossego que não se alcança mesmo quando se possui rios de dinheiro fluindo no quintal de casa como se fossem rios que percorrem longas distâncias até serem bebidos pelos gigantes oceanos. Ai, reconheci no meu íntimo que é gratificante ser um pai presente, protector e acima de tudo dedicado a cuidar da sua filha como qualquer mãe faria. Nisso, fiquei horas e horas contemplando o rosto belo da minha petiza, identificando os meus sinais e os da mãe que haviam sido aglutinados naquele ser tão pequeno e frágil que foi o fruto do nosso amor sincero e verdadeiro. A pequena bocejou, salivou e deitou nos braços consolantes do pai, esperançada de que estaria protegida de todo o mal que pode vir dos quatro quadrantes. Comecei a lacrimejar de emoção, não sabia o que estava a sentir, mas no mesmo instante tinha certeza de que era o espírito paternal jubilando naquele momento impar que só se sente quando se é um pai cuidador e “babado” como têm dito a Valuarda Monjane. 
No final, levantei de mansinho em direcção à cama onde havia sido esticado uma rede mosquiteira que a podia proteger dos mosquitos sanguinários que não tem a vergonha de sugar o sangue dos bebés. “Não vão beber deste sangue” disse aos mosquitos. Deitei-a naqueles lençóis brancos que simbolizam a paz eterna, a sensação íntima de bem-estar a beijando na boca, dizendo: “sonhe com anjinhas e anjinhos. Papai te ama!”

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