Na manhã de hoje, não pude controlar com que pé é que sai da cama. Mas pelo que tudo indica foi pelo pé esquerdo. A razão para esta crença é que logo pela manha, coisas esquisitas me aconteceram depois de ter dado o beijinho de despedida à minha adorada filha e à minha querida esposa, para atrair a sorte e a felicidade ao longo do dia. O que infelizmente começou a ser desbaratado antes do sol se posicionar sobre a testa das criaturas viventes que coloram a terra.
Cansei de esperar pelo chapa e logo me apareceu um “My Love”, “Plasma” ou “Ver Mocambique” (transporte colectivo de passageiros, já que o chapa é semi-colectivo) como qualquer um queira chamar. Me introduzi dentro deste, correndo todo o risco de ser chamado de “tihomu” (plural de bois ou vacas em changana). Felizmente ninguém me chamou desse nome ultrajante, apesar de que o mais chato estava por vir. Já dentro do My Love, o papo começou a se incendiar. O estopim foi um jovem que do nada terá dito que “nem todas as pessoas sobem o MyLove”. Nestes carros, como o nome bem diz, as pessoas dentro dele devem se amar e se agarrar para não cair no asfalto negro e ser moídas pelos “chapa100”. Na verdade, não sei se é isso ou outra coisa que faz as pessoas se abrirem para a conversa com qualquer um dentro deste. Mas talvez, o facto de este ser aberto e permitir ventilar o ar, faz com que as pessoas não se sintam acanhadas e procurem qualquer coisa para falar. Ou, talvez a outra hipótese seja de que as pessoas decidem jogar a conversa fora para esquecer a pobreza que lhes avassala. Voltando na esteira da conversa que o jovem começara, uma senhora repostou:- “Noé verdade isso rapaje. Todus sobiji os My Love, desnde enstudante, pessoas bonita e anté pessoa de fato!No momento em que a senhora falou de pessoas de fato, toda a gente começou a olhar para mim como se fosse um politico rodeado pelo partido da oposição ou pela sociedade. Aquilo foi estranho mesmo. Gosto de jogar conversa fora, mas ali, naquele momento, era como se tivesse traído a confiança das pessoas. Era como se não merecesse subir o “My Love”. Para fechar o cerco, já na Praça da OMM, um senhor sentado ao meu lado esquerdo, que tinha uma pasta enorme, não sei o que nela trazia, mandou parar o chapa. - Parage cobradorAo se virar para descer, a sua pasta veio bater a minha nuca. Aquela batida foi tão forte, parecia que um martelo gigante havia sido projectado para a minha cabeça. Me contorci de dor. No momento em que lhe queria falar que me havia desferido um golpe quase fatal, na ressaca da dor, o tal senhor desapareceu em meio as pessoas.Neste momento estou a rezar para que nada de pior me venha a acontecer ao longo do dia. Dizem que “quem canta, os seus males espanta”. Por isso estou a entoar canções da igreja para ver se termino bem o dia. Contudo, tenho que ter fé que tudo vai dar certo. Por isso, me dei o intervalo de almoço para vos brindar com esta breve história. Rezem pelo meu dia!
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