Encontramo-nos por ai nessas voltas que acontecem quando
queremos deitar o tempo fora. Trocamos impressões como manda o costume. Cada um
de nos falou como a sua alma se sentia. Terminadas essas formalidades humanescas
decidimos ir sentar nos bancos da escola e ler uma matéria que servisse para
tecer os nossos conhecimentos enriquecendo as mentes ávidas em aprender.
Sentimos quase que em consonância uma vontade de tomar uma sopinha enquanto
beliscávamos algumas palavrinhas. Entramos na lanchonete. Nesse momento, o
infortúnio roçou os nossos ouvidos:
- Não tem soupa.
A notícia antes fresca apodreceu nos nossos ouvidos
soltando-se da boca de uma jovem fina e delicada (aparentemente, nunca se sabe
oque se espera de alguém). “Na falta do pior, o melhor serve”. Foi esse consolo
que nos tirou da lama. A alternativa da sopinha naquele momento eram as
bolachinhas com um pouco de refresco para molhar as gargantas secas no
exercício da oralidade. Pedimos as duas coisas (bolachinhas e refrescos) que
não demoraram a sair. Retomamos aos bancos. Cada um de nos fazia a leitura
comendo uma bolachinha e bebendo o seu refresquinho. Naquele instante, no
exercício mais nobre do ser humano que é comer, consegui ler nos olhos do meu
colega alguma coisa que dizia
-veremos quem vai ser o último a acabar a sua parte.
Entrei no jogo, acompanhei a sua rotina. Cada um ia nutrindo-se,
controlando a velocidade do outro. Orquestrei um plano. Na medida em que ele ia
tomando o seu refresco e as bolachinhas a uma velocidade de luz até que acabou
ficando sem refresco para humidificar a sua garganta na hora em que destruía
vorazmente entre dentes as salgadinhas, eu lhe ia deixando acabar o líquido de
modo que sobrassem mais bolachinhas para que eu pudesse come-las sozinho e ele
sem refresco para acompanhar não tinha como continuar a ingerir as bolachas.
Finalmente os segredos que estavam guardados em nossas mentes
foram revelados. Demos uma rizada, um na cara do outro. Nesse momento, começamos
a ver o quanto vale uma amizade verdadeira, um momento, uma brincadeira tola.
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