Sabe, este último episódio de gripe a que acabo de passar levou-me a lembrar dalguns momentos do “pós-trauma” quando a gente se livra dalguma enfermidade. Chamo de pós-trauma porque não sei como é tratada aquela fase em que a gente sente que já está livre da doença que nos sucumbia e nem quero dar-me o trabalho de procurar pela definição. Primeiro porque não sou especialista na área, mas também, as pessoas não têm que esperar receber tudo de braços cruzados. Há que trambicar para manducar.
Acontece portanto, que, quando ainda era criança as vezes
me contentava em ter uma doencinha, desde que não martelasse tanto a cabeça
porque podia ter alguns dias de luxo. Podia comer tudo o quanto quisesse dentro
daquilo que eram os limites e as capacidades dos meus pais. De manhã vinha uma
papinha de milho; ao meio dia uma carninha e a noitinha mais um outro comerete
de luxo, mas antes uma sopinha e, nos intervalos podia comer bolacha maria, um iogurte
e mais alguns docinhos. Tinha um tratamento especial e não via o risco que se
tem quando se esta doente. O que mais gostava ainda era do xarope. Por vezes
preferia ter alguma doença respiratória para tomar o mel. No entanto, a única coisa
que me podia tirar o sono quando estivesse doente, eram as vacinas e os próprios
comprimidos.
Uma outra situação que acho um pouco engraçada nesta fase
é quando a gente fica doente de verdade e parece que ficamos por um fio entre a
vida e a morte. Lembro que nesta fase, como tinha um amigo de que gostava muito
na adolescência humilde e, porque não era ganancioso pensava em chamar os meus
pais para levar todos meus brinquedos para lhe oferecer já que não ia precisar
deles caso morresse. Me orgulho por ter pensado assi, pena que esta coisa de
adulto chegou e trouxe também a mania de agarrar as coisas para nós mesmos sem
pensar nos outros.
Uma mania a que me arrependo na verdade era nos casos em
que ficava doente enquanto namorava com alguém. Não queria que ninguém sofresse
de amores por toda a vida só por minha causa. Preferia fazer de tudo para que a
relação terminasse de modo a aliviar o sofrimento da dor da perda. Pena que não
sabia que isso fazia com que a pessoa sofresse mais porque me achava mais
especial ainda. Mas também, paguei um preço carro por esta mania. Cinco anos de
namoro foram a baixo.
Em fim, são casos para lembrar e rir um pouco. A gente
assim aprende. Sem as frustrações e algumas doenças a vida se calhar não teria
as cores que tem e muito menos as graças e as desgraças que nos proporciona.
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