Horas e horas passavam. Eu por sua vez aguardava impaciente para ver aquela
miúda com o sorriso de flor atravessar entre a esquina.
- Ola- a cumprimentava
Naquele momento um frio de embrulhar o estomago me mastigava. Os sovacos começavam
a aquecer e cuspiam um suor fedido das entranhas do corpo e sôfrego aguardava a
sua resposta.
- Tudo bem?- ela respondia
Nesse momento, meu mundo insólito fogueava-se de alegria. Uma coisa
estranha de dentro de mim se libertava. Parecia que estava preso a séculos em
torno de mim mesmo. Depois de responder a minha saudação, ela deslizava sobre o
solo areoso do bairro como se fosse uma sereia do alto mar que enlouquece os
marujos com a sua voz fina e suave atiçando os ouvidos afligidos pelas ondas. A
sua pele de cor de chocolate junto dos raios do sol transformava-se em feixes
luminosos que entranhavam-me a pele suavizando os poros. Juro que ficava
hipnotizado. Ai, dias e dias passavam e o cenário continuava.
O tempo passou, meu coração de coragem se encheu. Um certo dia quando a acompanhava
nesses encontros de cortesia quis meu segredo revelar. Já não aguentava guardar
um sigilo que estava a vista de todo mundo. Ela também já sabia que meu coração
por ela não aguentava. Que os dias que passava longe dela parecia que meu mundo
ia desaparecer, que o encanto da minha vida perdia graça. Dai, decidi abrir as
comportas do meu coração e o segredo revelar. Um grande objecto traz consigo
uma sombra grande. Por isso, os sentimentos que nutria, jamais os conseguiria esconder
para sempre.
Chegamos perto daquela casa colossal com o portão pintado a vermelho. Dai,
a fiz parar. Deixei fluir os sentimentos mais nobres que saíam da parte mais
profunda que há em mim. A coragem me avassalou. Fixo nos seus olhos como o leão
faz com a sua presa a observava no maior dos encantos “o amor”
-Sabe, eu gosto muito de ti. Desde o primeiro dia a vê-la meu coração falou
mais alto. Desde a muito que te queria falar aquilo que estou a dizer agora.
Contudo, me faltava coragem para proferir tudo o que tenho guardado- falava eu
para ela.
Foram quase três minutos sem parar, a falar para aquela beldade. Ela, nada dizia.
Apenas escutava as mais puras verdades que em mim saiam. Quando estava para
responder, eis que o infortúnio do meu desejo acontece. A porta daquela casa se
abriu de repente e uma alma humana de lá saiu
- Podem parar- proferia uma senhora delicada que saiu do nada, daquela
porta grande e vermelha
Era como se tivesse desligado algo em mim. Não consegui mais continuar.
Dai, nos separamos. Cada um seguiu o seu caminho. Aquilo que era o amor eterno
transformou-se num grande sentimento. Para além de amor, passei a gostar dela
de um outro jeito, mas tão especial. É como se ela fosse minha irmã. Até aos
dias que correm, meu coração ainda brilha quando lembra do seu primeiro amor.
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