terça-feira, 18 de novembro de 2014

Parabéns horizonte Azul pela realização da Conferencia Nacional da Rapariga


Durante dois dias (12 e 13 de Novembro), participei da conferência nacional da Rapariga que foi organizada pela Horizonte Azul e mais algumas organizações da sociedade civil que não posso fazer menção a nenhuma delas por serem muitas e, caso pusesse uma destas, as outras iriam contestar acusando-me de ter afinidades paralelas, o que é normal. Alias, todas estas organizações fazem parte de uma coligação que é conhecida por CECAP, que significa “Coligação para a Eliminação dos Casamentos Prematuros”.
Esta conferência a meu ver superou as espectativas, na medida em que fora o debate sem desfecho que nos habituaram a assistir neste tipo de eventos, a Horizonte Azul trouxe algo inovador, que é juntar a arte e o trabalho em prol de uma causa justa que é dar um “STOP” aos casamentos prematuros que, alias já mais serão chamados de casamentos prematuros, mas sim, “Uniões Forçadas ” porque segundo uma das oradoras, casamento presume consentimento enquanto, nas uniões forçadas as vozes das raparigas são abafadas pelo patriarcado que as submete a uma escravatura total. Por outro lado, a discussão estendeu-se ao fenómeno de tráfico de pessoas. Juro que antes desta conferência não sabia claramente como é que este fenómeno ocorre. Contudo, no final percebi que esta faz parte de uma prática que não é só feita no território moçambicano, mas envolve todo um circuito regional e internacional com maior enfase à vizinha Africa do Sul que é o principal destino das crianças traficadas. Através dos vídeos hora passados, vi olhos esbugalhados de lágrimas como um céu escuro prestes a se rasgar entre nuvens negras, um silêncio mudo capaz de assustar até os surdos vestiu a sala. Notei desta feita que alguma coisa estava a entranhar os/as adolescentes que coloriam aquela sala. Os titios e titias arrependiam-se dalgumas actitudes suas porque qualquer um, alguma vez terá sido conivente com estas práticas apesar de as desconhecer (minha ideia).
Em fim, muita coisa podia dizer. Mas falar não é escrever. Me foi aconselhado de que não devia fazer jornais porque isso satura as pessoas quando lê os escritos que a gente redige. Termino encorajamento para que mais associações trilhem o mesmo carril pelo qual caminha o comboio da Horizonte Azul. Por outro lado, agradecer a sobremesa em forma de sarau cultural que nos foi servida no Cine Teatro “Gilberto Mendes” barra Gungu.

Uma Licão Pratica do Dia-a-dia

Já a dias desde que chegamos a este lugar, o meu colega me olha com ar de desconfiança quando arrumo a cama. Alguma coisa como “Porque é que, este miúdo sempre a arranja o seu leito enquanto tem pessoas que são pagas para isso?” pairava a sua cabeça. Acredito que é desta forma que pensava porque me observava com ar de espanto e admiração ao mesmo tempo.
A propósito, certo dia antes de acordar e me aprontar para a corrida diária comecei a arrumar a cama. Nesse mesmo momento ele deixou a língua comer as bactérias que pairam no ar, dizendo:
-Olha porque é que estas a arrumar estas coisas enquanto as moças podem arrumar?
Como sempre, aquele era o momento mais oportuno para defender a minha causa mostrando que numa situação em que parece que a gente nada pode fazer. Podemos fazer muito do que nem se quer imaginamos. Comecei a lhe responder:
-“Sabe mano, as vezes as pessoas esquecem de que ainda existe bondade. Portanto, precisamos lembra-las de que afinal há alguma luz que pode brilhar em meio a imensidão das nuvens. Dai necessitamos acende-la. Hora veja, quando ela entrar e apanhar que a minha cama já foi feita, vai questionar-se porquê? A partir dai, irá começar a acreditar de que ainda existem boas pessoas e vai querer cultivar esta ideia contando para a sua família e amigo/as mais próximo/as e estas pessoas todas vão ajudar a espalhar esta ideia iluminado o mundo de boas praticas. Esta reflexão vai lhes puxar a reflectirem sobre as suas actitudes com relação aos outros e a qualquer evento”
Pude notar que havia ganho a sua atenção, ficou estático seguindo o ditado dos sábios que diz “escutar é o poço da vida”. No final para me mostrar que havia apanhado a ideia que com ele partilhava, antes de sair da sala disse o seguinte:
- Tens toda a razão. Veja que na minha cama tiraram até um dos lençóis enquanto para si deixaram tudo completo.
Em fim, é uma estória que chama a reflexão de todos para que vejam que podem muito fazer para a construção de um mundo melhor onde cada um de nós faz o seu máximo para iluminar a vida das pessoas próximas de si, sem importar se é uma pessoa conhecida ou desconhecida, rica ou pobre, grego ou troiano, em suma, não importando o seu status social.