segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Lamentações

Quem me dera ter permanecido criança, para não ser exprimido por esta vida de adulto. Ter nascido numa família rica, não rica em dinheiro, mas sim em sossego. Pensar somente no meu futuro apenas, e não em ser garante da continuação do sonho dos outros. Projectar a minha própria vida e não os sonhos frustrados dos outros. 
Quando amanhecer, pensar no que estudar e não no que comer. A todo momento sorrir de verdade, sem precisar disfarçar as mágoas que me avassalam a cada instante que o sol beijar a ápice da minha insolente mente. Sorrir de alegria e não sorrir para não chorar.
Ter toda a minha família reunida a mesa. O meu pai e a minha mãe sentados na mesma extremidade, rodeados pelos meus irmãos antes de se terem ido embora. Ouvir histórias fiadas no momento, lendas do fogo aceso que não se apaga; de batuques que tocam sozinhos a noite sem parar, se espalhando em toda a direcção; ouvir as histórias de Nwamulambo engolindo casas e palhotas; de pessoas que se tornam moscas e outras que atravessam balas como se fossem pó negro.Quem me dera não viver esta vida de adulto sem vida. Amanhecer com um futuro incerto e dormir com a noite imprecisa sem saber o que me espera no novo alvorecer.O que comprei para pagar este fardo pesado?Me tranco em torno de mim, monologando na rua para ver se encontro algumas respostas, apenas descubro de primeira a possibilidade de ser indigitado como esquizofrénico. Sinto um aperto no peito, as pernas se desfalecem. Nuvens negras me volteiam os sentidos. Tonteado sinto meu corpo minguar, como se fosse um desenho que resiste a ser apagado. Me apego a vida para não desmaiar e ser comido pelo asfalto negro.Me apego a vida, pois sei que tenho um papel importante a desempenhar. Apesar de reconhecer que por vezes não vale a pena lutar, porque a vida é curta e se alonga quando é mal vivida.Me bato na parede quando pessoas insensíveis lançam os seus olhares predatórios sobre a minha carne putrefacta que a cada minuto vai se desligando da minha alma.Vida insolente de adulto!

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