terça-feira, 15 de julho de 2014

Revendo os nossos dizeres


Hoje acordei bem cedo como tem sido habitual. Não fui treinar, visto que a corrida de ontem foi bastante cansativa. Comecei a organizar o quarto para rumar-me ao serviço. Enquanto me ocupava pela rotina da matina, a minha mente reflexiva e poluída de ideias começou a exercer a sua função natural e a mais nobre de todas, se assim me permitem dizer. Começou a girar em torno de alguns dizeres que as pessoas têm usado para se dirigirem a algumas situações ou coisas. Por exemplo entre os amantes do futebol e por vezes nos noticiários vinculados em vários meios de comunicação é fácil ouvir a seguinte frase:
-“Hoje vamos assistir o desporto rei, por volta das tantas….”-referindo-se ao futebol.
Agora, eu me pergunto: Se o futebol é o desporto rei, qual é o desporto Rainha? Por outra, todos conhecem o hino de África, quero acreditar que sim. O considero “hino de África” já que tenho ouvido meus conterrâneos a cantar e se não forem muitas vezes os nossos vizinhos sul-africanos a dizer:
-“Sinto-me orgulhoso de ser Africano, meus antepassados todos nasceram aqui. Filho legítimo, do mundo Rainha, minha Africa hoye, hoye!!!!”- Assim cantão referindo-se ao continente negro.
Mais uma vez a pergunta que pode fazer-se com relação a esta canção, é que se a África é o mundo rainha, então, qual é o mundo rei? Neste aspecto não me espanta se a África desde tempos passados foi subjugada, violada, escravizada, abandonada e mais uma vez depois de muito tempo é agora ambicionada por causa dos recursos redescobertos. Por outro lado, sabemos de antemão qual é o estatuto das mulheres no mundo. Elas são subalternizadas, são tidas como corpo do homem, o que faz com que no universo masculino elas sejam como sujeitos que não pensam, visto que este papel é atribuído ao homem que é a cabeça. Para mim, não seria tão mau se a África fosse chamada rainha por conta de ter sido aqui onde se presume que se tenha originado o primeiro ser humano. Apesar do mundo branco ter contestado e por vezes ter inventado várias artimanhas para tirar o privilégio da primazia de África quando fala-se do local onde os primeiros humanos se assentaram. Mas sim porque tem uma ligação com a situação deplorável em que as mulheres vivem e são tratadas na sociedade moçambicana em particular e no mundo no geral. Por fim, saindo do capítulo de Africa, é muito fácil ouvir pessoas a dizer:
-“Filho da mãe”- referindo-se a qualquer um, seja homem, seja mulher e não importando a idade.
O que a mim espanta nesta frase é que nunca houve alguém a dizer “filho do pai”. Aqui mostra-se claramente que o papel de cuidar dos filhos e de educar é atribuído às mulheres. A palavra paternidade, só se ouvi quando se fala de passar esperma para as mulheres. Agora para mim, ser pai é mais que isso. Ser pai, é ser alguém capaz de amar e demostrar amor, é ser protetor, amigo da família e acima de tudo responsável. O papel de cuidar dos filhos não é papel exclusivo das mulheres. O homem tem muito a dar neste sentindo. Antes da vinda do rebento ao mundo, o homem deve proteger a mulher gravida, a compreender visto que esta é uma fase muito delicada para as mulheres. No momento em que o bebe vem ao mundo o pai deve estar próximo para dar segurança à mãe e ao próprio bebe. Posso dizer mais ainda: “Ser pai não significa ter dois testículos ou capacidade de gerar filhos, qualquer homem é capaz de fazer isso.”
Para terminar posso dizer que há palavras, provérbios, preconceitos e estereótipos que servem apenas para secundarizar, invisibilizar e reduzir o papel das mulheres. Portanto, é bom que a gente altere como as coisas são faladas ou escritas, pois, sem nos darmos conta isso acaba fazendo com que muitas mulheres sofrem nas mãos de alguns homens que se apoiam nesses dizer que para mim nada fala.

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