segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

VIAJANDO EM TORNO DA MUSICA “O OUTRO LADO DA LEI” DA DAMA DO BLING




Escutando a música “o outro lado da lei”, da Dama do Bling, enquanto fazia as minhas obrigações laborais, quase derramava mil e uma lágrimas de emoção ao ouvir a história que retrata a realidade concreta de um polícia por estas ruas e esquinas que como teia se configuram no vasto Moçambique. A única coisa que me inibiu de chorar foi o facto de precisar desempenhar o meu papel social como adulto e como homem. Primeiro, como bem sabem, a nossa sociedade é adulto centrista e, por isso, não aceita com que uma pessoa adulta chore. Porque chorar é sinal de fraqueza e imaturidade. Por outro lado, não me foi aceite que chorasse ao escutar esta música, pois aos olhos da sociedade o homem deve ser corajoso e saber segurar as suas próprias lágrimas. Somente as mulheres e acrianças é que lhes é aceite chorar. Alias, mesmo as crianças do sexo masculino é parcialmente aceite que estas chorem, pois, é desde pequeno que se aprende a ser homem. Entretanto, há que perceber que o retrato do polícia que nos é trazido nesta música é de uma pessoa esforçada, dedicada ao trabalho, marido, pai de três filhos, e ainda pela discrição tem uma casa própria recheada de mobília (o que de certa forma contrasta com a realidade dos nossos policias, pois muitos destes alugam) e com cerca de vinte anos de trabalho. No entanto, na experiencia deste ofício, o policia em causa nunca sentiu o reconhecimento do seu trabalho por parte da sociedade, das noites de chuva longe da família e de outros problemas relativos a este serviço. Relata também, o facto de algumas vezes ter sido alvo de calúnia, desrespeito, ingratidão e de sofrer acusações de roubar as pessoas. Todavia, nunca ninguém o elogiou pelo belíssimo trabalho que já fez, pelo facto de ter prendido bandidos e marginais e por garantir a paz aos cidadãos. Nunca ninguém o perguntou como é que estaria ou como é que tem passado, se tinha o filho doente e dinheiro para leva-lo ao hospital. No final da música, a cantora nos faz subentender que o tal polícia é uma espécie de vidente pois prevê a sua própria morte, o que faz com que escreve uma carta se dirigindo à sua família com uma mensagem reclamando todas estas questões que são arroladas para o público no geral. Todavia, estes são outros contornos que não vamos seguir por razões que são explicadas no último parágrafo deste texto. 
Na verdade, é uma reflexão interessante que é levantada nesta música e não encontro resposta para tais questões. Mas uma coisa é certa: A profissão em si é paradoxalmente complicada. Hora vamos observar este trabalho é imperado por um código de conduta muito forte que a princípio não permite um contacto simples entre o polícia e o cidadão comum. A propósito nesta questão, me lembro a quando dos jogos africanos de 2011, realizados em Maputo, quando avistei um ex-colega que agora se tornou policia. Me aproximei deste, visivelmente emocionado, querendo o congratular pela posição nobre que tomou de se tornar polícia. Gritei o seu nome “…… comé pá”, e ele também respondeu “….. meu brada”, me dirigi como nos velhos tempos para lhe dar aquelas palmadas nas costas como mandam os códigos das masculinidade. “hei, hei, hei ”- me deu um chega para lá. De princípio não entendi o significado da repulsa. Entretanto, quando viu o espanto em mim, retorquiu cordialmente no meu ouvido “este trabalho não permite que me toques, se não os meus chefes me vêem”. Foi daí que percebi que não deve haver intimidades entre um polícia e um cidadão comum.Agora entre nós, com estes exemplos que nos mostram claramente que o policia é investido de uma entidade que lhe desassocia do cidadão comum, como é que o mesmo aparece se ressentindo do afastamento com o resto da sociedade? Não quero comentar acerca da performance dos polícias nas nossas ruas, mas este polícia que nos é apresentado parece uma utopia, daquelas situações que apenas se assistem nos filmes e na música como este exemplo concreto. Na verdade, há muita coisa que poderia escrever acerca desta música e do policia em causa, mas sei que os meus leitores são pessoas atarefadas como eu, por isso, não lhes vou encher de mais palavras. Cada um de nos vai continuar com a sua reflexão pessoal e tomar as conclusões que achar pertinente. Contudo, uma coisa é certa, a Dama do Bling é uma cantora inusitada, que sabe ler a realidade social e a transforma numa música cheia de mensagem e que leva a nossa sociedade a uma reflexão positiva sobre o dia-a-dia dos actores que interagem na mesma sociedade.




Voltando a questão central. Acho que a música traz consigo muitos pontos de reflexão sobre o papel do polícia na nossa sociedade; o reconhecimento ou falta deste que lhe é atribuído pela mesma sociedade; das situações adversas em que passa no meio da noite e, o facto de caminhar cerca de dez horas no asfalto sem repouso; o salário magro que recebe, que nem chega para as necessidades básicas. Em suma, nos leva a reflectir sobre o seu papel como homem comum que interage com outras pessoas. 

Carta de Adeus à querida Evangelina


“Escrevo esta carta com um rio de lágrimas minguando dos olhos, lembrando de tudo o que a gente passou e das esquinas indelevelmente gravadas na memória do reviver. Me recordo das tuas mãos angelicais forjadas pela deusa do amor acariciando o meu rosto redondo. Da tua voz fina que se confunde com a calma daquele lago onde a gente deu o primeiro beijo. Juro que apenas conheci o verdadeiro amor quando olhei nos teus olhos e vi a inocência pura em mim perdida, jamais encontrada nas miúdas desta época mergulhada nas vicissitudes vulgares. Nunca te revelei, mas hoje através desta carta posso me abrir por completo. Na verdade te conheci desde pequena. Quando tinhas oito anos e eu doze. Jurei me reservar para ti. As vezes te via passando da minha rua com a sua irmã, imaginava em ti a mulher adulta que eu queria ter para toda a vida. Aquela que juntos, velhinhos, rodeados pelos bisnetos iríamos contar historias de tempos longínquos. O tempo foi passando. Aquele sentimento miúdo começou a ganhar músculos. No primeiro dia em que te abordei, senti os meus pés a desfalecerem. As mãos trémulas. A voz enrouquecida denunciando o nervosismo que me caracterizava, apesar do esforço para disfarçar. Esperta que eras, descobriste tudo e sorriste inocentemente! O meu mundo ficou maravilhado. As portas do meu coração fizeram deslizar uma enorme carga de energia quando estiquei a mão para te cumprimentar como manda a tradição da nossa igreja.Todos finais de semana ficava no quintal da minha casa, porque sabia que dali passarias em direcção à casa da sua amada avó, onde fizemos florescer a nossa amizade. Na adolescência, as vezes te ouvia a cantar aquelas músicas românticas brasileiras roubando o meu coração inteiro. A sua voz penetrava em mim como um cântico matinal de um rouxinol afinado, desvirginando a madrugada nua e frigida. O nosso primeiro beijo foi como uma história de novela, um autêntico conto de fadas. Fiz-te parar naquela esquina, te confessei mil juras de amor. Falei de como o céu era lindo, que o longínquo azul era agradável e que tudo isso combinava contigo. Falei de como as estrelas cintilantes cortejavam o amor que florescia em nós. Te falei que no universo não há nenhuma criatura que congrega tanta beleza do que o seu rosto angelical. Sussurrei no seu ouvido palavras belas e perfumadas. Tu, desajeitada te fazias perder nas palavras tão doces que manavam da minha boca como um rio que nasce nas montanhas se precipitando no lago tão belo que lembra o paraíso. Olhei nos teus olhos, vi a combustão do amor queimando dentro da sua pupila. Intensifiquei as palavras delirantes até te perderes por completo. Sem forças, tentei te roubar um beijo de amor. Atenciosa como és, te apercebeste e me apartaste. Juro que me senti constrangido por te querer beijar sem permissão, apesar de ver que tudo em ti receava aquele sincero beijo. Me recompus, vesti os bons modos. “Peço te dar um beijo nos lábios”- pedi delicadamente, e tu achando que te havia pedido nas bochechas respondeste - sim. Logo que viste que me dirigia à sua boca, do seu jeito feminino, respondeste “não, não, não.” Fiquei envergonhado, desnorteado, sem saber que serenata iria entoar para si. Uma nuvem de melancolia me abalou. A boca que delicadamente sorrira se fechou. O rosto apaixonado ficou esquisito como se fossem banquinhos amontoados. Vendo a confusão que me criaste, trataste de remediar o erro. Disseste sim. Nesse momento dei-te um beijo melado, demorado e sincero. Te apertei como se fosse quebrar as suas costelas, fiz drenar todo o amor que tinha por ti. Começamos a namorar.O tempo foi passando, o nosso amor foi se fortalecendo. Pena que nem todos gostavam de nos ver juntos, mesmo a sua própria família. Comecei a acreditar no ditado que fiz “a felicidade custa caro”. Várias pessoas vinham te dizer coisa com coisa, mas nem com isso tu deixavas de acreditar em mim e o tempo foi passando como se fosse um corrosivo, apesar das maravilhas que vivíamos. Até o dia em que aquela sua perversa amiga me avassalou com um beijou a força, apesar de a ter negado e das tentativas frustradas de fazer com que te traísse. Da última vez ela foi tão forte e perspicaz. Justo no momento em que tu chegavas enquanto a empurrava para se afastar de mim. Despercebido me roubou um beijo. E tu não quiseste ouvir nenhuma explicação. Tapaste o meu sol. Nunca mais me quiseste ver. Tentei me redimir de todas as formas, mas não consegui destrancar o seu coração e dentro da minha mente só tu é que vives e mais ninguém. Passa hoje dois anos e trinta e cinco dias de sofrimento, de angústia, de choro por estares longe de mim. Tu que és o ar que eu respiro. Quando tu te foste meu mundo fico poluído. Agora te vejo com o Tomaje, o meu eterno rival que mesmo sabendo que estavas comigo, não deixava de te conquistar. Meu coração se satura e só não enfarta para continuar a sofrer pelo pecado que não cometi.Cansei de chorar lágrimas de sangue. Estou convencido de que já mais te terei. Acredito na justiça dos céus por isso, vou me juntar com Deus para te aguardar porque sei que depois de veres esta carta poderás enxergar que tudo era verdade.Nunca te trai. Adeus meu amor.”Esta carta foi encontrada dentro de um guarda-roupa, escondido dentro de um punhado de romances de amor, em 1976 num prédio abandonado, na baixa da cidade. Ficou para atrás quando muitos portugueses saíram do país temendo o advento da independência e a passagem do poder para maioria negra moçambicana. Tendo sido reunida a informação através de jornais e de testemunhas que dizem ter conhecido o jovem que escreveu a carta sem revelar o seu próprio nome, revelam que a fatídica historia terá acontecido de verdade. Varias notícias da imprensa daquela época referem que a jovem Evangelina depois de ter tido a carta nas suas mãos e lido o seu conteúdo terá se suicidado onde o namorado morrera. Mito ou verdade, mas o facto é que algumas pessoas dizem que a amiga da Evangelina depois de ver o que teria provocado, decidiu tirar a sua vida no lago, onde o casal desta historia se encontrava nas noites de lua cheia para gozar os prazeres de baixo. (Esta historia é uma invenção. Qualquer aproximação a realidade é uma pura extensão de coincidências)

Lamentações

Quem me dera ter permanecido criança, para não ser exprimido por esta vida de adulto. Ter nascido numa família rica, não rica em dinheiro, mas sim em sossego. Pensar somente no meu futuro apenas, e não em ser garante da continuação do sonho dos outros. Projectar a minha própria vida e não os sonhos frustrados dos outros. 
Quando amanhecer, pensar no que estudar e não no que comer. A todo momento sorrir de verdade, sem precisar disfarçar as mágoas que me avassalam a cada instante que o sol beijar a ápice da minha insolente mente. Sorrir de alegria e não sorrir para não chorar.
Ter toda a minha família reunida a mesa. O meu pai e a minha mãe sentados na mesma extremidade, rodeados pelos meus irmãos antes de se terem ido embora. Ouvir histórias fiadas no momento, lendas do fogo aceso que não se apaga; de batuques que tocam sozinhos a noite sem parar, se espalhando em toda a direcção; ouvir as histórias de Nwamulambo engolindo casas e palhotas; de pessoas que se tornam moscas e outras que atravessam balas como se fossem pó negro.Quem me dera não viver esta vida de adulto sem vida. Amanhecer com um futuro incerto e dormir com a noite imprecisa sem saber o que me espera no novo alvorecer.O que comprei para pagar este fardo pesado?Me tranco em torno de mim, monologando na rua para ver se encontro algumas respostas, apenas descubro de primeira a possibilidade de ser indigitado como esquizofrénico. Sinto um aperto no peito, as pernas se desfalecem. Nuvens negras me volteiam os sentidos. Tonteado sinto meu corpo minguar, como se fosse um desenho que resiste a ser apagado. Me apego a vida para não desmaiar e ser comido pelo asfalto negro.Me apego a vida, pois sei que tenho um papel importante a desempenhar. Apesar de reconhecer que por vezes não vale a pena lutar, porque a vida é curta e se alonga quando é mal vivida.Me bato na parede quando pessoas insensíveis lançam os seus olhares predatórios sobre a minha carne putrefacta que a cada minuto vai se desligando da minha alma.Vida insolente de adulto!

UMA VOLTA EM TORNO DO PAPEL DA GRETCHE DA NOVELA O AMOR À VIDA

Espero que não me apelidem de “amador assíduo das novelas”, mas posso revelar que de quando em vez, me dou tempo para ver outras realidades que nos são trazidas em jeito de novelas. A propósito, ontem assistindo o “Amor à vida”, achei interessante uma situação que merece uma profunda reflexão. 
Aqueles que estão dentro do assunto poderão perceber melhor aquilo que estou a falar neste momento, mesmo os que nunca viram esta novela, vão concordar com algumas das conclusões a que cheguei. Com isso, acredito que conhecem a Grete (Gretche para brasileiro), a negra que tem HIV/SIDA, que é discriminada por ser portadora deste vírus. Nesta situação, o preocupante é que o maior número de personagens que saem nesta novela é de brancos. Caso a memoria não se desassocie de mim, apenas dois negros é saem nesta, a própria Grete e mais um menino cujo nome não posso precisar neste momento. Mas com certeza, as suas histórias se cruzam por desempenharem um papel que considero de pessoas desfavoráveis e vulneráveis. Uma precisando de adopção e a outra infectada pelo vírus de HIV. Contudo, o que interessa neste momento é discutir o papel da negra Grete. Como é que se explica a única mulher negra que sai na novela, também seja a única portadora da doença? Qual é a realidade implícita detrás disso?

Na verdade, isso nos quer revelar que mesmo no Brasil que é considerado a terra da “democracia racial”, denunciada pelo Emicida, através de um vídeo que circula na internet, o HIV e a pobreza tem um rosto negro. Que as mulheres negras são consideradas as propagadoras do HIV para os homens brancos. Hora vejamos, de todos os homens com os quais esta personagem saia à cama, não havia nenhum negro, apenas eram homens brancos. Se calhar a novela queria passar outra mensagem, mas errou no taco. Será que não podiam dar o privilégio a única negra ter um papel diferente? Na verdade isso espelha a realidade de muitas novelas, o papel dos negros é sempre banal e medíocre e, isso ajuda a perpetuar a discriminação, primeiro do negro, segundo do negro vivendo com o HIV/SIDA e, terceiro sobre as mulheres negras. Isto é o que posso chamar de tripla discriminação (é uma conclusão pessoal).Como se não bastassem estas situações todas, o mais chato, é que cá em Moçambique quando as pessoas consomem estas novelas, não lançam um olhar crítico sobre as historias retratadas. Assistem o flagelo da sua própria raça (ou cor, como dizem que apenas existe uma única raça) de ânimo leve. É preciso despertar a consciência crítica. Olhar as coisas com outros olhos, com os olhos de querer alterar a realidade sobre o risco de continuarmos a criar um mundo onde apenas haverá desafios para as gerações vindouras.

Conselho

Não deixe que a mágoa e o desentendimento estrague a sua relação. Porque as pessoas são do jeito que são e não mudam somente porque a gente quer que elas mudem. Cada um de nós tem a sua forma condicional de ser e, por isso, nos devemos esforçar para amar do jeito como elas são. Se é que as amamos de verdade. 
Saiba perdoar o erro que te foi cometido, porque ninguém é tão perfeito que nunca possa ter errado para a outra pessoa nesta vida. Já dizia o Shakespeare, com a mesma severidade com que julgas, também seras julgado. E, indubitavelmente, independentemente da razão nunca gostarias que te julgassem de forma severa.
Neste momento, se estas brigado/a com a sua/seu parceira/o, por favor, deixe as diferenças que vos separam e se abracem fortemente. Deixem tudo para atrás, se liberte do carma que te trás tanta dor, que não te deixa ver o quão a/o parceira/o te quer bem.Neste momento, se estas brigado/a com a sua/seu parceira/o, por favor, deixe as diferenças que vos separam e se abracem fortemente. Deixem tudo para atrás, se liberte do carma que te trás tanta dor, que não te deixa ver o quão a/o parceira/o te quer bem.

UMA MANHÃ CHEIA DE AZAR

Na manhã de hoje, não pude controlar com que pé é que sai da cama. Mas pelo que tudo indica foi pelo pé esquerdo. A razão para esta crença é que logo pela manha, coisas esquisitas me aconteceram depois de ter dado o beijinho de despedida à minha adorada filha e à minha querida esposa, para atrair a sorte e a felicidade ao longo do dia. O que infelizmente começou a ser desbaratado antes do sol se posicionar sobre a testa das criaturas viventes que coloram a terra. 

Saí de casa a uma velocidade de purgantes querendo se repelir do seu dono depois de ter tomado das mais esquisitas refeições, com medo de atrasar ao serviço e merecer uma falta por ter demorado assinar o livro de ponto. Chegado na “esquina de compone”, que é uma paragem intermediaria dos chapas que saem da Praça dos Combatentes (vulgo xiquelene) à Baixa da Cidade, Museu ou até Xipamanine, pude notar que esta estava vestido de gentes visivelmente agastadas da longa espera pelos chapas que os pudesse levar dali aos vários destinos pretendidos. Eu, com o meu fatinho preto, pastinha de marmita e a outra de livros da escola, cheguei para aumentar o número de pessoas na paragem. Até pensei em fazer “maligaçao” para “ganhar tempo”. Como se tem dito comummente por estas artérias e esquinas que interligam o vasto Maputo. Mas logo notei que tinha somente vinte meticais no bolso. Os catorze meticais de ida e volta, e os restantes cinco para o pão. Alias, na verdade restava um metical que era para o plástico, como a nova lei manda - “Os plásticos não devem ser oferecidos”. 
Cansei de esperar pelo chapa e logo me apareceu um “My Love”, “Plasma” ou “Ver Mocambique” (transporte colectivo de passageiros, já que o chapa é semi-colectivo) como qualquer um queira chamar. Me introduzi dentro deste, correndo todo o risco de ser chamado de “tihomu” (plural de bois ou vacas em changana). Felizmente ninguém me chamou desse nome ultrajante, apesar de que o mais chato estava por vir. Já dentro do My Love, o papo começou a se incendiar. O estopim foi um jovem que do nada terá dito que “nem todas as pessoas sobem o MyLove”. Nestes carros, como o nome bem diz, as pessoas dentro dele devem se amar e se agarrar para não cair no asfalto negro e ser moídas pelos “chapa100”. Na verdade, não sei se é isso ou outra coisa que faz as pessoas se abrirem para a conversa com qualquer um dentro deste. Mas talvez, o facto de este ser aberto e permitir ventilar o ar, faz com que as pessoas não se sintam acanhadas e procurem qualquer coisa para falar. Ou, talvez a outra hipótese seja de que as pessoas decidem jogar a conversa fora para esquecer a pobreza que lhes avassala. Voltando na esteira da conversa que o jovem começara, uma senhora repostou:- “Noé verdade isso rapaje. Todus sobiji os My Love, desnde enstudante, pessoas bonita e anté pessoa de fato!No momento em que a senhora falou de pessoas de fato, toda a gente começou a olhar para mim como se fosse um politico rodeado pelo partido da oposição ou pela sociedade. Aquilo foi estranho mesmo. Gosto de jogar conversa fora, mas ali, naquele momento, era como se tivesse traído a confiança das pessoas. Era como se não merecesse subir o “My Love”. Para fechar o cerco, já na Praça da OMM, um senhor sentado ao meu lado esquerdo, que tinha uma pasta enorme, não sei o que nela trazia, mandou parar o chapa. - Parage cobradorAo se virar para descer, a sua pasta veio bater a minha nuca. Aquela batida foi tão forte, parecia que um martelo gigante havia sido projectado para a minha cabeça. Me contorci de dor. No momento em que lhe queria falar que me havia desferido um golpe quase fatal, na ressaca da dor, o tal senhor desapareceu em meio as pessoas.Neste momento estou a rezar para que nada de pior me venha a acontecer ao longo do dia. Dizem que “quem canta, os seus males espanta”. Por isso estou a entoar canções da igreja para ver se termino bem o dia. Contudo, tenho que ter fé que tudo vai dar certo. Por isso, me dei o intervalo de almoço para vos brindar com esta breve história. Rezem pelo meu dia!


A (IN) TOLERÂNCIA DENTRO DE UMA RELAÇÃO DE CASAL

Resultado de imagem para discussão casalO sol já se esta a deitar e, no entanto, não poderia deixar de tecer alguma mensagem abordando sobre um assunto que de longe não parece importante, mas que, a sua ausência ou presença faz desmoronar ou reavivar muitas relações e lares. Se estes lares e relações não se desmoronam, a longo prazo, se tornam insuportáveis e as pessoas se mantêm casadas ou dentro da relação para não sofrer a pressão social, sobretudo da parte da mulher (por causa da pressão social). Contudo, a existência deste ingrediente tão peculiar dentro da relação, faz com que as pessoas se sintam tão dispostas, mais animadas, com desejo de viver juntos para sempre, como a Julieta e o Romeu. O condimento do qual vou falar neste pequeno texto é acerca da tolerância. Para mim, a tolerância dentro de uma relação, significa a aceitação de uma ideia contrária a nossa. Não importando porem, se tenhamos ou não a razão no assunto que se discute. A tolerância vai para além de uma simples palavra definida. É uma atitude perante uma situação adversa. É renunciar a si mesmo para aceitar o outro, sacrificando-se pelo bem-estar da relação. Esta palavra coabita o mesmo espaço com o amor. Pois, onde não há amor, as pessoas não se toleram e, facilmente ficam agressivas, se irritam com tudo e qualquer coisa. 
A tolerância deve ser cultivada a todo momento. Porque é mais fácil partir pela ignorância para depois pagar pelas consequências. Já diz o ditame popular “da semente amarga, nasce a fruta amarga”. Não importa se tenhamos a intenção ou não de deitar a semente fora, mas claramente, vamos ter que viver com a árvore amarga porque deixamos a semente nascer e crescer dentro do nosso quintal. Portanto, é preciso ser vigilante com as nossas actitudes, porque no momento em que se nega o outro, também não se aceita a si por causa dos sentimentos amargos que produz dentro do seu íntimo. E a isso chamamos de intolerância.A intolerância é o contrário da tolerância. Significa, portanto, a não-aceitação do próximo como um ser capaz de expressar uma ideia aceitável. É negar sacrificar os seus valores pessoas, os seus princípios em nome da palavra que jurou cultivar “o amor”. A intolerância dentro da relação, muitas vezes, parte da falta do diálogo e, por sua vez desta situação surge os problemas conjugais. O homem e a mulher não conversam, das poucas vezes que se falam é para acender o estopim do desentendimento. A relação se torna azeda, insuportável e insustentável. Nascem as traições, as brigas constantes, os berros e mais males que não podem caber neste papel branco.Podia até escrever muita coisa sobre o assunto, mas como bem sabem, o tempo é um dos poucos recursos que não estão sobre o controle dos seres humanos. Nem a ciência, ainda não descobriu alternativas que possam remediar a fuga do tempo. Mas, deixo ficar o seguinte: Não deixe a sua relação se desmoronar por conta da intolerância. Tenta criar um meio-termo nas vossas diferenças, nunca perderás a razão apenas por dizer ao outro que tem razão. Saiba que a tolerância sempre compensa e torna a relação mais briosa e nos deixa com uma paz de espírito que torna o mundo num lugar melhor de se viver.

CHAMADA DE ATENÇÃO AOS HOMENS, MEUS PARES

Hoje vou me dirigir aos meus pares, aos homens, num assunto que é de extrema importância que é a higiene do homem quando está no espaço público. A minha abordagem não vai ser técnica, como quem domina o assunto. Mas somente farei a descrição de alguns comportamentos a evitar quando se esta em publico ou quando se dirigi a este:
1. Evitar meter dedo no nariz – é um pouco grotesco meter o dedo no nariz, tocar aqueles detritos nasais. Imagina depois disto, te repartirem um pão para comer na hora, sem água para lavar as mãos. É um pouco chato nem? As pessoas podem não ser abertas consigo para te persuadir de que esta é uma atitude anti-higiénica, mas com certeza, não se sentem confortáveis ao vê-lo rolando o dedo dentro do nariz como se tivesse a extrair um tesouro comestível.
2. Meter o dedo no ouvido - Tanto o ouvido como o nariz, acumulam poeira que se transforma numa sujeira. Por si só, o gosto da sujeira que sai do ouvido é muito amargo. Não vais mentir achando que não sei que nunca tentaste meter o dedo no ouvido, para depois cheirar ou pôr na língua, apenas para sentir o gostinho. Mas mano, isso é nojento e se deve evitar, não fique limpando o ouvido com o dedo em público, até mesmo quando estiver sozinho. O ouvido tem seu próprio mecanismo de limpeza e não se deve introduzir nenhum objecto dentro deste. Até mesmo cotonete.
3. Deixar de cortar os pelos púbicos - Tive certa dificuldade para definir os pelos que aparecem a volta do pénis. A princípio, só me aparecia a palavra “makaka” (pelos púbicos) quando pensava nestes pelos. Pois, é assim como se chama na minha língua local. Contudo, uma coisa é certa. É chato quando num dia destes levantas a camisa em público e aqueles pelos grandes, mal cortados espreitam. Por outro lado, na hora derradeira, na cama, isso pode incomodar a sua parceira para além de parecer anti-higiénico. É preciso ter atenção com os seus “makakas”. Não são nenhum cartão-de-visita para serem exibidos em público.
4. Não aplicar desodorizante – Sabe, quando estás na rua com amigas ou amigos, até mesmo com a sua namorada, sobretudo no dia de intenso calor o seu corpo exalar um cheiro terrível e insuportável. Você pode fingir que não senti, mas para os outros isso é um grande incómodo e parte sobretudo dos seus sovacos. É preciso aplicar qualquer coisa a esses sovacos para não incomodar as pessoas com o seu mau cheiro. Tem o rollom que se vende quase em todas as esquinas, há métodos naturais como aplicar o limão, mas isso depois de cortar os pelos que crescem nesta zona. Neste ponto é preciso frisar que nos casos de que se trata de uma patologia, a pessoa deve procurar uma ajuda médica para lhe ajudar no assunto, pois, há momentos em que mesmo o rollom em nada ajuda.
5. Manter unhas grandes – Para além de ser um problema de higiene, é uma questão de saúde. Pois, para que saibas, as unhas carregam consigo varias bactérias pela razão simples de que as mãos sãos usadas para tactear várias coisas. As vezes usam-se os dedos, apoiando-se das unhas para agarrar objectos. Neste momento, vários resíduos visíveis e invisíveis ficam nas unhas e criam uma camada preta de sujidade. Em outros momentos, por esquecimento ou vício as pessoas costumam comer as próprias unhas para aliviar a ansiedade. Imagina quanta sujeira comem.
Nota: Continua

Que inveja tenho

Tenho inveja daqueles que dormem sem antes ter pensado
Que não rebolam na cama feito minhocas em lama
Inveja das pessoas vazias de sentimento
Que não ocupam as suas mentes com sonhos utópicos que lhes tira o sossegado sono
Tenho inveja daqueles que nunca se apaixonaram
Dos que vivem por acaso e entregam a sua vida ao descaso

Que não se preocupam pelo futuro insertoNão se apegam ao passado
Os meus fantasmas enfrentar
O Nwamulambo vence

Quem me dera dormir sem pensar

Me deixe sossegado

Por favor, não ligue a lâmpada. Quero no escuro ficar.
Desligue a rádio, a televisão e o telefone. Este é o momento da minha mente meditar.
Ouvir a natureza noturna cantar.
O som da cigarra escutar.


Não feche a porta, a deixe semi aberta para o vento entrar
Vozes de lugares distantes trazer
Sentir o ranger das janelas, dos barrotes e das chapas enquanto me embalo na minha louca viagem
Não me incómoda, não me chame louco
Este é o momento do meu eu, conversar com outro eu, que de mim se esconde
Não me negue esse sossego que não encontro nesta vida de desassossego
Quando saio à rua e contemplo rosto mascarados
De gente indigente, vestida de gente
Que tiro deste meu mundo em que viajo neste barco da imaginação
Os gatos da casa ao lado correm no meu teto
A porta aos poucos se abre e bati violentamente no aro
Os mosquitos fazem festa neste corpo nu, vestido de pele que a terra vai comer como destino que encontra todos homens
Nem com isso deixo de mergulhar neste oceano imaginário
Terra distante
Sonho radiante

ECOS DO DIA DOS HERÓIS: UMA LIÇÃO A APRENDER SOBRE A MOÇAMBICANIDADE


A multidão havia acorrido para aquele lugar, como se fossem abelhas atrás do néctar para o transformar em mel. O sol madrugador que pairava sobre as cabeças daqueles homens e mulheres, esperançados num futuro promissor, em que os moçambicanos, não viveriam sobre a iminência de uma guerra, não conseguia os afugentar daquele lugar. Era como se tratasse de um autêntico Déjà vu. Um acontecimento escrito no tempo, a espera de um emissor para o transmitir ao povo.
Foi nesse instante que o Governador da província central de Moçambique (Zambézia), Abdul Razak, subiu ao palco e se dirigiu ao povo para discursar, em virtude da comemoração do dia 3 de Fevereiro, dia dos Heróis Moçambicanos. No princípio, parecia uma mensagem normal, de um político obrigado a dizer qualquer coisa para defender o pão que coloca na mesa. Mas, de repente, a mensagem ganhou vida. Motivo de registo e de destaque em todo o país. Chamou o Manuel de Araújo, Edil de Quelimane, o pegou pela mão como se tratasse de um filho consanguíneo e disse: - Eu sou Governador e Manuel de Araújo é edil, sou da raça indiana e ele raça negra, nasci em Maputo e ele na Zambézia, sou Muçulmano e ele é Católico e eu sou da FRELIMO e ele é do MDM – No seu semblante, não se via nenhuma falsidade. Mesmo se tivesse, pela originalidade e criatividade não se permitia nenhuma leitura alem de ouvir aquelas palavras cheias de significado – Ele é jovem, eu sou crescido. Mas todos nós somos moçambicanos – Continuou.Na verdade, é deste tipo de discurso unificador que precisamos. Que não distingue a raça, a etnia, a cor da pele, a pertença partidária e nem o estatuto social. Precisamos de políticos interessados apenas em consolidar o tecido da unidade nacional que vai se desfiando aos poucos, caso não se altere a situação actual. Está de parabéns o Governador Razac, e o seu edil Manuel de Araújo, por ensinar que se pode fazer politica com a inclusão do diferente, que duas forcas políticas podem coexistir no mesmo espaço sem conflitos. Estão igualmente de parabéns os moçambicanos por fazer este discurso girar o mundo através das plataformas virtuais. Afinal não são somente escândalos políticos que merecem ser viralizados.
- Eu sou Governador e Manuel de Araújo é edil, sou da raça indiana e ele raça negra, nasci em Maputo e ele na Zambézia, sou Muçulmano e ele é Católico e eu sou da FRELIMO e ele é do MDM – No seu semblante, não se via nenhuma falsidade. Mesmo se tivesse, pela originalidade e criatividade não se permitia nenhuma leitura alem de ouvir aquelas palavras cheias de significado – Ele é jovem, eu sou crescido. Mas todos nós somos moçambicanos – Continuou.
Na verdade, é deste tipo de discurso unificador que precisamos. Que não distingue a raça, a etnia, a cor da pele, a pertença partidária e nem o estatuto social. Precisamos de políticos interessados apenas em consolidar o tecido da unidade nacional que vai se desfiando aos poucos, caso não se altere a situação actual. Está de parabéns o Governador Razac, e o seu edil Manuel de Araújo, por ensinar que se pode fazer politica com a inclusão do diferente, que duas forcas políticas podem coexistir no mesmo espaço sem conflitos. Estão igualmente de parabéns os moçambicanos por fazer este discurso girar o mundo através das plataformas virtuais. Afinal não são somente escândalos políticos que merecem ser viralizados.
Foi nesse instante que o Governador da província central de Moçambique (Zambézia), Abdul Razak, subiu ao palco e se dirigiu ao povo para discursar, em virtude da comemoração do dia 3 de Fevereiro, dia dos Heróis Moçambicanos. No princípio, parecia uma mensagem normal, de um político obrigado a dizer qualquer coisa para defender o pão que coloca na mesa. Mas, de repente, a mensagem ganhou vida. Motivo de registo e de destaque em todo o país. Chamou o Manuel de Araújo, Edil de Quelimane, o pegou pela mão como se tratasse de um filho consanguíneo e disse: 


(Filipe Tumbo, adaptado da realidade)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O vendaval de Nwmulambo

Tudo estava tão calmo. Até quando de forma súbita, a temperatura que brincava na casa dos trinta e cinco graus, subiu para quarenta e nove. Do nada, o céu azul se vestiu de nuvens negras e se tornou noite. Por sua vez, as nuvens negras se tingiram de vermelho como se fosse sangue jorrando de um bode sacrificado aos deuses. As pessoas assustadas correram de um lado para o outro, sem saber o que fazer. Atónitas, algumas se fecharam nas sinagogas e começaram a rezar “ave marias”. Os apegados a cultura, correram para as suas palhotas, consultar os seus oráculos acerca da mensagem que os de baixo e os de cima queriam trazer ao mundo dos vivos. Enquanto isso, os ímpios e os apegados a ciência, indagavam acerca daquele fenómeno estranho a sua existência humana. 
Para além de melhorar, as coisas pioraram. Do céu vermelho de sangue, começaram a gritar vozes ensurdecedoras de relâmpagos. Não eram relâmpagos quaisquer, eram raios negros que aumentavam a escuridão da noite com seus gritos de agonia para os seres humanos cheios de medo.
Um vento que parecia miúdo começou a mudar de roupagem. Fez tremer casas. As chapas nos tetos voaram. Arvores como se tivessem em trabalho de parto se abriram ao meio. Uma chuva de granizo desceu do céu de forma violenta jamais imaginada pelos seres viventes. Eram pedras do tamanho de um pilão dos tempos da colheita. Quando as mamanas (mães) depois de ter colhido o milho das machambas, o pilavam para fazer o “uswa”(xima), que depois era servido na mesa dos homens, perpetuando o patriarcado secular.
(continua)

A MAGIA DA FALTA DE ENERGIA

O meu bairro quando está sem energia fica deste jeito, escuro, da mesma forma como a mãe natureza concebeu o mundo, antes do homem descobrir a magia de conservar o fogo e transformar a energia em luz. É um momento impar. Um show comparado a si mesmo.
É um fenómeno inspirador que nos tira do hábito de ver o céu sobre a luz artificial. Nos possibilita a lembrar da infância, a nos encontrarmos neste presente imaginário que nos possibilita sonhar com o futuro.
O céu azul contrasta com o escuro da noite, criando um fenómeno esplendoroso quando se junta ao cheiro de humidade do solo, criado pelo "pós chuva" que caiu ontem a noite e na madrugada de hoje.
Lembro das peripécias que criei na escola, desde a primária até à secundária. Na "escola nova" brincando de karaté em pleno dia 1 de Junho, ou do dia em que perturbei todo o cenário de sala de aulas para dar dinheiro de lanche ao meu saudoso irmão porque queria ver o rosto daquela menina que fazia o meu coração de criança se deleitar de tanto amor. Por isso, hoje em dia, nego quando uma pessoa diz que as crianças não se apaixonam.
Na Secundária da Polana, de trás das mangueiras, comprar BADJIAS e ver aqueles adolescentes jogando MUDLERERE (um tipo de batota em que se gira a moeda e a outra pessoa tenta descobrir se é cara ou coroa). Ou do dia em que Custódio perdeu a voz quando cruzou com aquela menina da luta continua. De Malhazine, lembro daquelas ruas largas e da casa do poço que se encontrava logo na esquina ou do dia em que quase desmaiava por estar cheio de tanto pão comer.
Tudo isso me vem a tona por causa desta falta de energia que faz da hora mais escura uma magia.
Mas também, este é um momento que da mesma forma que trás inspiração aos apaixonados magoados, aos poetas inatos e aos cronistas viciados em contar suas próprias histórias, também inspira os larápios para saltar nas gargantas das suas vítimas e tirar todos os seus pertences, até mesmo o seu bem precioso que é a vida.
Enquanto me embalo nesta viagem temporal entre o passado e o presente, eis que a energia volta e dissipa toda a magia criada na minha mente, que desliza em forma de ideias e transborda neste "Samart Keaker" da Vodacom. E, tudo volta a normal. As pessoas que como gotas passavam de mim sem me notar, agora, toda a hora gritam "Dom Filipe". Porá de ser tanto conhecido no bairro. Não posso escrever a vontade!

Quero Sossego

Por favor, não ligue a lâmpada. Quero no escuro ficar.Desligue a rádio, a televisão e o telefone. Este é o momento da minha mente meditar.Ouvir a natureza noturna cantar.O som da cigarra escutar.Não feche a porta, a deixe semi aberta para o vento entrar
Vozes de lugares distantes trazer
Sentir o ranger das janelas, dos barrotes e das chapas enquanto me embalo na minha louca viagem
Não me incómoda, não me chame louco
Este é o momento do meu eu, conversar com outro eu, que de mim se esconde
Não me negue esse sossego que não encontro nesta vida de desassossego
Quando saio à rua e contemplo rosto mascarados
De gente indigente, vestida de gente
Que tiro deste meu mundo em que viajo neste barco da imaginação
Os gatos da casa ao lado correm no meu teto
A porta aos poucos se abre e bati violentamente no aro
Os mosquitos fazem festa neste corpo nu, vestido de pele que a terra vai comer como destino que encontra todos homens
Nem com isso deixo de mergulhar neste oceano imaginário
Terra distante
Sonho radiante

VOU ENCHER A PEQUENADA DE BOLACHAs

Depois da ansiedade do trabalho que tive, que me tirou sono de todo o dia de ontem, hoje quero sair do serviço. Comprar umas bolachinhas para a minha filha e para as minhas sobrinhas. A minha filha, logo que me ver, a de começar a se agitar e a se esforçar, falando palavras mudas que só tem sentido nos ouvidos de um pai presente e empenhado em ver crescer de forma saudável a sua pequena filha. Enquanto isso, as minhas sobrinhas, um pouco crescidinhas, também virão a correr aos braços do tio amado. “Será que há alegria que supere isso?” – Já vou me respondendo - “nunca existiu em nenhuma parte do mundo”. A minha sobrinha Boromir, a mais nova, vai ter a ousadia de me perguntar:- Tio Godofrodo, o que é isso?E eu, porque não gosto de facilitar, vou fazer a mesma questão de sempre:- Adivinha, se não adivinhar não te vou dar o que trago – Mas que é uma pura mentira, pois, como sempre no final, mesmo ela não tendo adivinhado irei dizer – Toma, estava a brincar consigo - e, nesse momento, irei a levar ao colo como faço com a minha filha pequena.Da minha sobrinha, Faramir, pouco posso falar. Pois, inteligente que é, apenas vai ficar de longe, cogitando, como quem no silêncio diz “este meu tio, tolo, ainda pensa que sou criança”. Para não me deixar sem graça, no final de tudo vai rasgar um sorriso enorme retribuindo a gratidão e o amor que tento ensinar a elas.Portanto, não tenho nada a reclamar da vida. Posso me considerar um pai, tio e homem feliz, apesar das adversidades que a vida as vezes impõe. Tenho a minha família, tenho o meu tesouro. Por isso vou já passar daquela esquina e encher as mãos de bolachas.

O MOLESTRADOR MAIS INSANO

Quando a tarde da sexta-feira começava a camuflar o calor intenso que se fazia sentir durante o dia, Teresane, preparava os seus pertences para se despedir dos patrões chineses que alugaram uma flat (apartamento) naquelas zonas da Baixa da cidade. Não via o tempo de sair e lutar com os chapas (transporte semi-colectivo de passageiro). Já que havia perdido a hora de apanhar o TPM. Para a sua surpresa, logo ao deslizar as escadas que a levam todos os dias ao vigésimo primeiro andar, viu o TPM a passar de sua frente. Aflita. Correu a gritar para o motorista:- Leva, levouuu – corria Teresane, como se fosse a Lurdes Mutola no auge da sua juventude vibrante – Nile parageeeee – continuou a gritar, correndo.
O motorista do TPM sentiu-se obrigado a parar o carro num sítio proibido, apenas para acudir Teresane naquela aflição terrível. Mas também, não aguentou ao ver aquelas curvas da jovem senhora, dançando ao ritmo da marrabenta sem música. Parou o carro.
- Depressa entra – gritava o cobrador - depressa, se não vamos te deixar – repetiu.
Se introduziu no interior do carro lotado de pessoas. Gentes de diferentes idades, profissões e histórias.
- Phocophela uya phambene (entre mais a frente) – gritava uma senhora de idade, com uma cara visivelmente maltratada pelo tempo e pelo calor. Tinha aspecto de uma vendedeira.
Teresane, respeitou a voz do comando. Se introduzindo mais para o interior. De repente, se viu rodeada, apertada de todos os lados com quatro homens. O que estava a sua frente era um senhor dos seus sessenta e tal anos. Os que a ladeavam tinham um aspecto incomodado. Cansados. Entristecidos e aborrecidos, como se tivessem carregado o sol nas costas. Quem lhes visse, de antemão diria que quando a hora mais escura chegar, não iriam responder as suas responsabilidades maritais, satisfazendo os prazeres de baixo das suas esposas. Agora, o homem que estava atrás da Teresane, parecia agitado, como se não tivesse bebido o remédio da lua. Mas o traje formal que trazia afastava de si, todo o pensamento de desconfiança que pairava sobre a cabeça da jovem senhora.
- Porque é que este jovem senhor está agitado? – Pensava ela – talvez teve um dia pesado, ou talvez recebera uma notícia triste – conclui Teresane no seu monólogo.
O que ela nunca imaginou foi que o seu corpo despertava a atenção de todos os homens nos lugares que frequentava. Como se não bastasse, o ultimo emprego em que trabalhava, teve que o abandonar por conta do assédio que sofrera por parte do chefe, que depois a acusou de furto. Apanhando dai um subterfúgio para a sua expulsão desta. No entanto, Teresane era uma pessoa de princípios sólidos. Uma mulher de fibra. Que preferia desafiar todas e todos para defender o seu corpo e as suas ideias. Mesmo quando recebeu a nota de culpa, ela foi até ao fim do problema até ganhar a causa que lhe rendeu uma boa indemnização.
Contudo, quando o TPM cruzava a estátua de Eduardo Mondlane e a avenida com o mesmo nome, na zona do Alto Maé, mais um avalanche de pessoas veio encher o carro que se dirigia à “CMC Guava”, onde a jovem senhora e outros ocupantes do machibombo viviam. Entre os apertos e não apertos, Teresane notou uma coisa estranha. De trás das suas saias, onde se posicionava o jovem senhor, começou a sentir um relevo estranho e um respirar agonizante. O jovem se mostrava aflito, atónito, como se um fogo incendiasse o seu corpo. Para se aliviar, o jovem abriu o zipe das calças, como se criasse uma válvula de escape para o fogo que o incendiava. Com estes movimentos todos, Teresane se concentrava para poder perceber o que se estava a passar. Contudo, ninguém era capaz de ler os seus pensamentos. Enquanto isso, de repente, sentiu uma mão a lhe entranhar a saia media que vestia. Pouco a pouco, a mão subia. Agora estava a afastar a calcinha da jovem Teresane. De repente, do nada, Mavassane sentiu um pénis gordo e forte invadindo as suas saias como se fosse um mineiro a procura de um tesouro.
- Wani manha maquedze (está a me apertar os testiculos) – Gritava uma voz masculina agonizante.
Um minuto de silêncio. Não se ouvi nem um suspiro. Todos queriam perceber o que se estava a passar e de onde é que vinha a voz que gritava de aflição. Foi quando se ouviu a voz grave de Teresane:
- Pensava que u yedla yine – gritava Teresane, sem poder conter as palavras que a maneira se misturavam entre o português e o changana. Enquanto isso, a mão direita segurava a máquina dos prazeres de baixo do jovem senhor. Os dois testículos com o respectivo pénis estavam presos nas mãos da Teresane.
- Não tem vergonha, esta tarde. Queria violar alguém dentro do chapa – gritava uma voz dentro do carro – Satana – continuou a voz que nem deu para se notar se era de um homem ou de uma mulher.
- Motorista, vamos à esquadra – gritava uma outra voz. Desta vez, com certeza era de um homem
Sem mais delongas, o chapa desviou da praça dos Heróis em direcção à esquadra de Mavalane. Chamou-se a polícia. De imediato, veio prender o molestador com a mão na botija. Ou melhor, o seu pénis e testículos nas mãos da Teresane.
O resto da história que se sucedeu ninguém sabe contar. É caso de polícia.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O ANOITECER NO NYERERE

Passos lentos e rápidos gastam a sola dos seus sapatos sobre a estrada alcatroada da avenida ressurgida. Outrora pela água destruída.
Reacendem a esperança abandonada, esquecida nos corações dos homens vazios de fé.
Vozes de Petizes dando continuidade ao ciclo de vida, fazem lembrar a criança cheia de energia e de sonhos que um dia fui.
O traseiro escondido dentro das calças, sentado sobre o passeio. Sustenta o corpo de onde os olhos famintos de ver, contemplam a escuridão da hora mais escura, aliciada pelo céu cheio de nuvens negras.
Esta combinação toda, me faz embarcar num monólogo com o meu próprio eu. Inspirado pelas vozes que dão vida a esta noite. Sentado sobre o Nyerere.
Enquanto escrevo no meu "Smart Povo", as senhoras arrumam as suas banquinhas de doces e de amendoim torrado, que sustentam inúmeras famílias. Enquanto isso, por outro lado, os jovens empreendedores, vendedores de sapatos e de camisas, fazem as contas das suas vendas, se recolhendo para as suas casas, recarregar as baterias durante a noite.
Por sua f mais vez, me tenho de despedir para ir cumprir as minhas responsabilidades de pai e de marido, me despedindo desta magia fenomenal. Deste casamento ímpar sem igual, com a esperança de voltar a experimentar a mesma experiência. Antes da EDM colocar a sua luz artificial, inimiga dos amigos do alheio e do poeta desprezado inspirado.
Tata, Nyerere.


CONSELHOS MATINAIS PARA O VENCEDOR



Não passe a vida reclamando, dizendo que isto não está bem, aquilo está mau, tudo está perdido e a minha vida é um desastre. Pois, no momento em que fazes isso, estás a chamar energias negativas para a sua vida. Se de facto estava tudo mau, vai piorar, e, aquilo que estava melhor, vai se perder.
Não cave a sepultura da esperança com as suas próprias mãos. É preciso acreditar, sonhar que tudo está bem e que com o tempo vai melhorar. No entanto, saia primeiro da sombra da bananeira dos problemas. Busque saídas, mude a forma de pensar e as actitudes inconsequentes que tomava. Acredite em si, na sua capacidade de persistir.
Não fique deitado na cama, sem nada fazer. Mecha o esqueleto. Isso faz bem ao corpo e a própria alma. Vença a ansiedade e o medo. Se afaste das pessoas que não te querem bem, que te transmitem energias negativas. Se alie a bons conselheiros. Crie amizades que duram o infinito. Sonhe grande porque tu és um vencedor inato.
Não deixe que estas palavras sejam como o vento que se espalha em todo o espaço e nada fica. Seja o poço que retêm a água criando o Oásis espetacular em meio ao deserto, dando vida ao seres viventes, rastejantes voadores e subterrâneos. Faça o "BOOM" da sua vida. Crie o "Big Bang" do universo da sua vida. Chame todas as energias que pululam o planeta ao seu encontro. Deixe de lamurear.de Vencedor.
A partir de agora, crie uma página nova, colorida. Ao passado só voltará para tomar as lições aprendidas e continuar a trilhar o seu caminho com novas actitudes e pensar abrangente.

Força vencedor que nunca se deixe vencer.