quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ser menininho


Quem me dera voltar a ser um menininho,
Acordar de manhãzinha, o chá tomar.
Sair à rua, com outros menininhos brincar
De pés descalços, sem camisa andar.

Ao meio dia ouvir o chamado da minha mãe coruja,
Me chamando para almoçar com batata-doce
Mais um copinho de chá tomar,
Enquanto espero o xiquento do dia anterior.
Comer, comer até a barriga encher e de novo brincar.

Já a tardinha correr com o xinguerenguere sem parar.
Brincar de cabra-cega, zotho e maberlinda jogar.

Que infância tão linda, cheia de luz!
A tardinha aos braços do meu pai voltar,
Sentir aquela barba afiada e grossa picando.
Toca-la como a minha filha toca a minha hoje.
O banho tomar e na sala de casa de caniço ficar,
Sem roupas, sem nada. Assim como vim ao mundo,
Inocente, incapaz de ler os códigos dos adultos, lá fora pelo buraco espreitar.
Ver o céu azul, as nuvens se dissipando.

A mesa sentar e jantar.
Histórias dos meus pais escutar.

Estórias de “Kaya nhembane” (em casa inhambane) ou “Magude nkanhine” (Magude no canhueiro) ouvir.

Quem me dera voltar a ser um menininho e infinitamente sonhar

Peço um abraço

“Por favor, peço um abraço. Somente um abraço e nada mais. Quero tirar essa tristeza que está no meu sofrido coração que carrega tanta dor. Não quero muita coisa de ti. Simplesmente me aperte, bem forte, como se fosses quebrar as minhas frágeis costelas. Sei que sou homem, mas também sou humano e, por isso, choro. Não quero lacrimejar como um adulto, mas sim, como um passarinho tirado do leito da mãe sem antes aprender a voar. Chorar porque não consigo me encontrar nesta perdição infinita.
Estou manietado em meio a problemas e confusões que a minha mente inventa e depois me acusa. Diz que estou triste, estou com dor. Acabo sentindo estas coisas, fervilhando no meu âmago. Por isso, preciso do seu abraço amigo/a bem forte e nada mais. Não me negue, não se afaste. Sou homem, mas meu coração é fraco e o charco das minhas lágrimas está próximo da vista.
Por favor, não quero mais falar, por isso me dê um abraço para poder calar.
Quero deixar de trabalhar, de lutar, de sonhar e de acreditar porque os dias são mais escuros, o sol já não sai e as noites mais tenebrosas. Por isso, preciso do seu abraço para ver se me passes alguma luz. “Dizem que a vela não perde a luminosidade por acender uma outra.” Não entendo porquê te negas. Quero um abraço, isso não se compra e nem se vende. Então não te negues. Os homens também precisam de um abraço e de um ombro amigo para chorar, deitar as suas mágoas infinitas. Dos segredos inconfessáveis, dos amores da infância transformados em dores.”

Uma Lição Entre Colegas na Cozinha

Resultado de imagem para cozinha colegas desenhoEntrei na cozinha a correr para aquecer o almoço. O prato do dia era composto de guisado de galinha e arroz de cebola. Não via a chegada da hora nobre, o momento mais esperado. Não são todos os dias que se come frango no almoço. Tendo em conta que na minha casa, apenas se cozinha carne, entre duas a três vezes por mês. Meu colega estava ai parado, na cozinha, estático como se fosse um espantalho que é colocado nas machambas para assustar os passarinhos. Me olhava com admiração. Murmurando palavras surdas e mudas que lutavam para se libertar. Finalmente ganhou coragem e deixou a língua beber o ar, dizendo:
-Será que há algum dia em que estás sem moral?-perguntou.
Não gosto de respostas directas. Sou famoso em dar voltas para satisfazer uma simples questão. Talvez seja por medo de deixar as pessoas insatisfeitas com as respostas que lhes possa dar. Portanto, não dei uma resposta directa. Comecei a circular em argumentos.
-Sabe, a questão da disposição depende de si. Se você quiser mostrar-se cheio de energia, é só pensar que esta feliz e tudo a volta está bem. Não é que não tenha problemas, mas a forma como os encaro não deixa transparecer que sejam tão relevantes para mim. É uma forma positiva de viver e de ver o mundo. Ademais, os problemas não somem apenas porque você está nervoso ou alegre. Por outro lado, quando está perante um problema, de forma exacerbada se preocupa, você bloqueia as saídas para uma solução mais saudável. Não importa até aonde a pessoa está mergulhada num problema. Há sempre uma solução - enquanto falava, ele se limitava a escutar - olha o exemplo da água da chuva que em gotas cai, mas imponente quebra qualquer obstáculo até alcançar o oceano- continuei.
Ficou escutando, durante uns prolongados minutos sem nada dizer. Acabou lembrando do dia em que teria trancado as chaves dentro do armazém e, desesperado veio ter comigo em busca de ajuda. Estava tão pálido, assustado como se tivesse visto um xituculumukumba em carne e osso. Tendo o sossegado, dizendo que aquilo era normal de acontecer e que as pessoas ião entender e caso quisesse poderia dizer que fui eu que as tranquei e, portanto, saberia como justificar. Contudo, nem precisou mentir, porque antes de ir falar que trancou as chaves, conseguiu ver que as podia alcançar simplesmente com um pau. Aproveitei esse infortunado incidente para argumentar ainda mais “esta a ver? Você se martelou enquanto ainda tinha uma última solução a vista. Só para ver que se preocupar de mais é anteceder o sofrimento”
- Tens toda razão, tenho aprendido com isso, vou tentar viver positivamente apesar de não ser fácil- falava ele, acenando a cabeça concordando com as palavras antes ditas.
A comida aqueceu e quase queimava enquanto a gente ia cozinhando ideias, partilhando experiências de vida, que nos vão valer por toda a vida. Como “tudo que é bom não dura para sempre” como dizem os sábios, tivemos que nos separar, cada um para seu sector, com a certeza de que as nossas almas estavam iluminadas e nutridas de energias positivas, como a lua que rouba energia do sol durante o dia para nos iluminar a noite.



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Gosto do passado


Gosto do passado porque é onde reside o que realmente aconteceu
O passado é certo e nos ensina
O passado é imutável
O presente é pesado e o futuro desconfiável
O futuro é incerto e o presente é traiçoeiro

Se pudesse, voltava ao passado e tirava as melhores recordações para meu coração alegrar
Do dia de chuva no nosso lindo ninho, do primeiro beijo lembrar
Enfrentava os fantasmas do passado com toda a certeza de não existirem: o xituculumukumba, o Mbatama e Mwamulambo,
Buscava todos amigos que ficaram atrás, para a minha mente iluminar
Vivo no presente e ainda me arrependo de cada passo que dou
E por vezes me perguntou quem eu sou
Porque o presente é desconhecido
Tenho medo do futuro incerto que não sabe segredar o que vai acontecer
Tenho medo da noite que está a chegar
Tenho medo porque não sei o que vai acontecer no novo alvorecer
Nesse futuro incerto

O que compensa no corpo, tira da mente

Não é por a acaso que nos decepcionamos com certas pessoas. Acontece várias vezes ver-se alguém bem perfumado(a), com corpo de viola quando é mulher, e, saradinho quando é homem, ao chegar em qualquer lugar, fazer com que toda a gente fique boca-aberta como se fosse um convite para as moscas entrarem aos pares, provocando um silêncio até que não se oiça nem um mosquito a voar na sua eterna procura pelo sangue humano. Parecerem autênticos (cas) galãs de Hollywood, aqueles (as) que apenas se vêem nos filmes especiais, que provocam febres nas cabeças de toda a gente quando lhes contempla. Contudo, tudo se estraga quando abrem a boca. As coisas que falam são ao contrário da montra. O cuidado que tem com o corpo, não é o mesmo que tem com a língua. São desanimadores (as), egocêntricos (cas), cheios (as) de piadinhas sem graça, mas que acham engraçadas e, cortam todo o ânimo que encontram pela frente. É a versão contrária do sapo que vira príncipe. Neste caso, estas pessoas são príncipes e princesas que viram sapos ou sapas. 
Na verdade, estas pessoas compensadas ou que trabalham para compensar o corpo, não estão preocupadas com a mente. O que querem é saciar o seu ego ao ver todo o mundo a olhar para si, como se fossem semideuses na terra. E, como todos sabem, os deuses são solitários porque tem todo o mundo e, todo o mundo não os tem. Com isso, não tem com quem partilhar os seus sentimentos mais íntimos, dividir as suas conquistas e derrotas porque não se devem misturar.
Portanto, no final do dia, são pessoas tristes, emotivas, que choram quando estão sozinhas e não querem que ninguém saiba, apenas para continuarem a viver e acreditar na sua ilusão e nessa vida misera que levam.

Ainda me lembro

Dos amigos da infância
Daquelas brincadeiras divertidas que os adultos achavam cheio de delinquência
Brincadeiras desajeitadas, horas esquecidas
Retornávamos à casa quando o sol, no final do dia ia se deitar
São os tempos passados que fazem a minha alma gritar sem parar
Gritar de alegria de velhos tempos lembrar
Quando crianças, o proibido era o mais desejado
Não importava se a gente voltava para casa aleijado
Nas covas do “mugodine” a gente extraia o nosso tesouro preferido
Era simplesmente a diversão, não era o ouro nem o cobre
Porque eu era pobre

A maturidade, nem sempre tem a ver com a idade

É frequente, as pessoas relacionarem a maturidade dos indivíduos com a idade que tem. Contudo, para mim, não devia ser sempre assim. Ora vejamos, há certas pessoas com idades avançadas, mas que no entanto, vivem e pensam como se não tivessem a idade que possuem, não demonstram a maturidade ou responsabilidade relativas a sua idade. Os seus sonhos são limitados, as suas ideias andam a reboque dos outros, tem medo dos desafios, fogem dos problemas e vivem como autênticos marginais e sem pensamentos próprios. Portanto, não conseguem acumular o mínimo de experiência de alguém que se pode considerar madura.
Por outro lado, maturidade significa ser responsável de si mesmo e das suas ideias, ser assertivo, ter responsabilidade nas suas acções, ter coragem de enfrentar os desafios necessários para se ganhar experiência até se considerar alguém maduro. Tanto como o seu sinônimo, maturidade significa amadurecimento, que por sua vez significa que a pessoa cresceu até atingir o estágio necessário para ser considerado um indivíduo adulto, e isso não presume apenas a idade, mas sim, as suas actitudes e os seus pensamentos. Mas também, significa que as ideias desta pessoa não são contraditórias, que a mesma apreendeu dos erros do passado até ganhar experiência.
Contudo, há pessoas que nunca chegam a atingir um, nem outro estágio. Permanecem imaturas e consideram-se adultas. Vivem uma vida de covardes, buscam respeito por serem pessoas mais velhas, porem, não se dão o respeito que merecem. São indivíduos que para camuflar a sua imaturidade fingem ser rigorosos. Tratam as pessoas, com dureza e frieza, apenas para não chamar a atenção das suas actitudes medíocres, inconsequentes e sem noção.
Portanto, é bom que as pessoas cresçam e se comportem como deve ser. Que não exijam o que não podem dar, para que não lhes possa ser exigidas aquilo que nem sequer imaginam ser exigidas algum dia, a maturidade que pretendem. É bom que não se confunda a idade e a maturidade. Essas duas coisas nem sempre se relacionam

A vida não é para ser carregada

Tem sido recorrente ouvir pessoas a dizerem que “a vida é pesada”, que não vão conseguir isto ou aquilo por conta deste ou daquele motivo, encontrando desta feita a explicação para os seus fracassos. Contudo, há uma coisa que as mesmas deviam entender, que “a vida não se carrega e nem deve ser carregada”, deve ser manejada de forma suave, porque ela é curta e temporária. Ela é fugaz, por isso nos escapa tão facilmente.
É preciso perceber, que não importa quão complicado seja um problema, há sempre uma solução. Mesmo a água da chuva que frágil, em pequenas gotas cai, sempre encontra um caminho para alcançar a mãe oceano, sua criadora. Por outro lado, é necessário entender que as coisas não se ajeitam porque estamos ou não preocupados, mas sim, que elas desenham o seu próprio caminho. Também, quando se está preocupado de forma exacerbada, afunilam-se as soluções e vive-se numa autêntica tensão, fazendo com que a vida pareça pesada de mais e sem saída. Por isso, em nada compensa carregar a vida, ficar chateada e mal dizer as pessoas.
É preciso ter uma postura diferente, viver de forma animada e positiva, contagiar as pessoas que nos rodeiam com essa mesma energia. Contar sempre uma piadinha, rir de tudo e de todos. Afinal, sem isso a vida não tem graça, é melancólica e colérica e, ninguém merece viver dessa forma.

A Costa de Sol está zangada

A praia da Costa de Sol está zangada
A nossa praia está magoada e entristecida
Consome homens, mulheres e crianças inocentes
São covas criadas por pessoas indecentes
Colocam sinais como se fossem dementes
Esta minha língua que fala coisas sem sentido será cortada
Aos cães famintos que pululam a praia quente será dada
A nossa praia está magoada
As rezas que antes acalmavam os Deuses do mar perderam sentido
Por sua vez os Deuses deixaram de zelar pelas vidas dos banhistas
A nossa praia está entristecida

É preciso ter modos

A beleza e a riqueza são insignificantes se comparadas a inteligência e a delicadeza. É a mesma coisa que ver um punhado de sal e comparar com a imensidão de um oceano. Não compensa em nada ser belo e ter dinheiro se é pobre em modos e inteligência, se não é capaz de entender que somente o amor e afecto é que são capazes de arrebatar o coração de qualquer donzela. Os tempos são outros, as mulheres também o são. Nalgum momento pode parecer que o dinheiro, a fama e a beleza compensam. É uma miragem, com o tempo tudo desvanece e fica a verdade nua e amarga como ela é feita.
Hoje em dia como sempre foi, é preciso ser amigo, companheiro e acima de tudo saber escutar. Toda a mulher tem uma história por contar e precisa de ouvidos bem atentos que saibam ouvir sem julgar. É verdade quando se diz que “as palavras não enchem o bolso.” Tem razão de ser dito. As palavras enchem o coração de esperança, de auto estima, de sentimentos nobres. Não é verdade quando se diz que “as mulheres já não querem ouvir palavras de amor.” Se assim o fosse não gastaríamos dinheiro tentando comprar amor por causa do desconhecimento de que o amor não se vende e nem se compra. Se nós como homens carecemos de ser amados, as mulheres também carecem do mesmo amor, afinal todos somos feitos da mesma matéria.

Saudades do ano passado



Tenho saudades das gargalhadas que dei no ano passado
Tenho saudades do beijo roubado que arranquei do meu amor
Tenho saudades das trapalhices e tolices que cometi
Tenho saudades daqueles lugares por onde passei
Tenho saudades daquela tranza (sexo) fogosa que quase me levava ao delírio
Tenho saudades daquele aperto que quase sufocava
Tenho saudades daquela conversa que nos fez perder a hora nos bancos daquele jardim
Tenho saudades daquele olhar tímido me chamando ao mergulho carnal
Tenho saudades dessa boca suculenta com sabor a mel
Tenho saudades daquele perfume cheirando a cor-de-rosa
Tenho saudades de tudo que fiz no ano passado
Tenho saudades daquele cabelo preto e longo com cor de ouro
Tenho saudades do tempo que passou, do tempo que era, do tempo que não é, e do tempo que nunca vai voltar a ser

Tenho saudades!

Querido diário

Hoje é final do ano. Todo o pessoal do bairro está super agitado, tentando ornamentar as ruas de modo a ficarem impecáveis (mais bonitas). Quase em todos bairros e ruas onde visitei o cenário é o mesmo, montão de luzes acesas, mensagens de final do ano pintado em troncos e murros, piscadelas (vão desculpar-me, não sei como é que se chamam aquelas luzes que piscam e apagam repetidamente. O meu vocabulário é pobre). É um cenário de festa total, com música a maneira. Por um lado, ouvem-se as canções de “Mabermurmuda a bater” como se tem dito. Na verdade, para mim as pessoas têm razão quando assim o dizem. Este cantante está a resgatar a nossa tradição, apesar da contradição nas suas mensagens, porque para mim, algumas músicas deste tem um conteúdo sexista o que vai contra os meus princípios. Fazer o quê? Estamos num país com liberdade de expressão. Portanto, cada um diz o que pensa! Por outro lado, as pistas são animadas com o Kwankwaram que é uma dança importada dos angolanos. Quem seriamos nós sem copiar?
Em fim, é um dia para se alegrar por aqui ter chegado. Foi uma longa caminhada com subidas e descidas, com alegrias e tristezas que foram partilhadas com as pessoas próximas e distantes.
Portanto, quero desejar um feliz ano novo à toda minha família; colegas de trabalho da escola, de serviço, do facebook e para toda a gente que vai poder ler esta mensagem. Que o ano de 2015 seja repleto de alegria, fartura, amor, respeito, harmonia e muita solidariedade.

(31 de Dezembro de 2014)
Para o meu querido diário

O que é o tempo

O tempo é o remédio de tudo ou quase tudo.
O tempo cura até as feridas incuráveis
O tempo revela os segredos inconfessáveis
O tempo nos faz conhecer melhor as pessoas que a gente achava conhecer
O tempo nos faz desconhecer o conhecido
O tempo cura tudo ou quase nada
Não há comportamento que o tempo não revele
O tempo é infinito. Perdura toda a eternidade
O tempo existe muito antes da humanidade
Existe o nosso tempo e o dos que virão

O meu natal

Para mim, o natal é uma data que simboliza a fraternidade, amizade, perdão e reconciliação entre as famílias. É uma data que junta todos e todas os/as irmaõ/ãs numa só mesa para partilhar as derrotas e as conquistas alcançadas durante o ano. Por outro lado, é um momento que junta pais (papas e mamas) e filhos/filhas na mesma mesa, como Jesus fez na última ceia com os seus discípulos para se despedir. Entretanto, hoje em dia este momento não significa apenas despedida, mas sim, um reencontro entre amigos/as e familiares.
O que conta nesta data não é o volume, nem a qualidade da comida que foi possível angariar, mas sim, o que esta mesma comida representa. Portanto, o natal é para todos: sejam ricos e pobres, gregos e troianos. Fazendo jus a palavra, não me fiz de rogado. Juntei-me aos meus irmãos para partilhar gargalhadas, lamurias e alegrias. Foi um momento para pedir ao Deus do céu para que protegesse toda a família, mas não só, também para chamar as energias positivas que estão a volta do universo de modo a que se juntem a nós para si transformar em alegria que contagiante havia avassalado toda a família. Juntamo-nos todos: eu, minha mãe, minha esposa e filha, minha cunhada (mulher do meu irmão), meu irmão (esposa da minha cunhada) e irmã, meus sobrinhos e sobrinhas; e o “Sasuke” que é o meu cãozinho, que literalmente apanhei perto da barraca do “Batista” e que agora faz Show de adestramento por todo o Bairro.
Bolos por toda a parte, carne dos variados tipos e cores, sumos e refrescos, menos bebida porque não comprei e nem pretendo comprar para ninguém. No primeiro momento como manda a tradição e a cultura adulto-centrista, o meu irmão mais velho improvisou um discurso apesar de não ser denominador das palavras. Queria que aquela parte tivesse ficado comigo! Mas regras são regras. Depois disso, a minha irmã mais nova foi incumbida o papel de fazer a oração, afinal Deus tinha que estar presente, não havia como. Por fim, comemos com piadas a volta. É um momento inesquecível. Foi muito tempo de luta para conseguir este feito, juntar toda a família. Quase toda! Porque faltava o meu pai, mas, segundo as suas palavras estaria presente espiritualmente. Acreditamos, por isso que a cerimónia decorreu em perfeitas condições. Posso me arriscar em dizer que “os de baixo estavam satisfeitos”.
Só faltava uma coisa para completar: como tradição, tenho comprado presentes para a família e, até o fim deste dia, tudo estava perdido. Me senti com uma grande divida e não podia viver com isso. Portanto, no dia seguinte fui ao serviço pegar nas minhas últimas reservas e me dirigi à Baixa da Cidade onde comprei uma capulana para minha mãe e minha sogra, roupas para as minhas duas sobrinhas; uma bulusa bonita, um sutiã, calcinhas e sapatos para a minha amada esposa. Momentos depois, chegado a casa comecei a oferecer cada artigo à sua dona. Recebi beijos e abraços, elogios e admiração. Foi uma coisa espectacular que me entranhou. Tenho que reconhecer: “A família é o nosso maior tesouro”.

Momentos de pai e filha


Sentei na cadeira, a peguei e coloquei nos braços. Nesse momento senti uma conexão inexplicável, é como se eu existisse num outro corpo, como se uma metade minha estivesse residindo em outra pessoa. Com ímpeto, penetrante olhou nos meus olhos como se quisesse dizer alguma coisa. Apesar de ela não poder falar verbalmente, todavia, senti uma coisa muito profunda na sua contemplação, um olhar fixo e sincero. Ficamos nos observando por um tempo incomensurável. Fui capaz de perceber a confiança que ela sentia nos meus braços de pai, apesar da sua incapacidade de proferir qualquer palavra através verbalmente. Era o reconhecimento do amor que estaria recebendo, colada a aqueles braços que sustentavam seu corpo pequeno de menina. Bocejou, virou a cara, tocou no meu rosto redondo. Nesse mesmo instante, senti uma coisa relaxante, extraordinária, uma paz interior, um sossego que não se alcança mesmo quando se possui rios de dinheiro fluindo no quintal de casa como se fossem rios que percorrem longas distâncias até serem bebidos pelos gigantes oceanos. Ai, reconheci no meu íntimo que é gratificante ser um pai presente, protector e acima de tudo dedicado a cuidar da sua filha como qualquer mãe faria. Nisso, fiquei horas e horas contemplando o rosto belo da minha petiza, identificando os meus sinais e os da mãe que haviam sido aglutinados naquele ser tão pequeno e frágil que foi o fruto do nosso amor sincero e verdadeiro. A pequena bocejou, salivou e deitou nos braços consolantes do pai, esperançada de que estaria protegida de todo o mal que pode vir dos quatro quadrantes. Comecei a lacrimejar de emoção, não sabia o que estava a sentir, mas no mesmo instante tinha certeza de que era o espírito paternal jubilando naquele momento impar que só se sente quando se é um pai cuidador e “babado” como têm dito a Valuarda Monjane. 
No final, levantei de mansinho em direcção à cama onde havia sido esticado uma rede mosquiteira que a podia proteger dos mosquitos sanguinários que não tem a vergonha de sugar o sangue dos bebés. “Não vão beber deste sangue” disse aos mosquitos. Deitei-a naqueles lençóis brancos que simbolizam a paz eterna, a sensação íntima de bem-estar a beijando na boca, dizendo: “sonhe com anjinhas e anjinhos. Papai te ama!”

Ser homem

Ser homem não significa ter um bicho grande capaz de penetrar até ao útero, ou ser portador de uma beleza física capaz de convencer a todo o mundo. Ser homem, não significa ser estúpido ou ser capaz de fazer chorar uma mulher.

Ser homem é mais que isso. É saber lidar com os seus próprios sentimentos, significa saber tornar uma mulher feliz, ser humilde, simpático. Ser homem significa ser capaz de sentir através do olhar do/a outro/a, é ser realista e acima de tudo ter personalidade.

Saudades

Longe de casa e dos seus braços confortantes vejo o quão importante és nesse deserto de sede. Se todo o sonho de criança se materializa-se nessa vida insólita e melancólica de adulto, juro que te recriava para saciar toda a sede que efervescesse no meu peito transbordando nesse desejo de estar ao seu lado fazendo amor. Amor! É um termo que ganha uma dimensão incensurável quando estou longe de ti. A única coisa que me mantém vivo, que permite que não transcenda a loucura neste momento, é a esperança de amanhã retornar à casa para mergulhar nos seus braços e te sufocar de beijos. “Te sufocar de beijo!” Desculpa por dizer tamanhas barbaridades. É só para ver que longe de ti não sou ninguém, há muito de ti em mim do que tu imaginas. O seu nome esta talhado de forma indelegável nas gavetas do meu coração como o umbigo que nunca sara deixando uma cicatriz eterna.

Desapontado com a publicidade da Frozy

Aquela publicidade da “Frozy” que passa todos dias na hora nobre, na STV, teria maior sucesso se os actores da mesma desempenhassem o seu papel como tal. Vê-se claramente que eles não bebem aquele sumo, apenas molham os lábios nos fazendo de autênticos ignorantes. Mas sinceramente, acham que uma pessoa adulta vai tomar aquilo?
É verdade quando dizem que “os gostos não se discutem”, mas não deve haver exageros no uso da palavra. Dizer-se que vamos tomar frozy na calada da noite, na praia e….vamos lá isso não cola. Para mim seriam razoavelmente felizes se mostrassem uma festinha de crianças a se deliciarem com esse sumo. Também, tem a questão de que o próprio sumo não é muito saudável, tem muito açucar e sem falar do corante que é outro problema para a saúde (opinião pessoal).
Não podem fazer publicidades como se fosse para autênticos iletrados. Apesar de não termos comido muita areia na matéria, pelo menos, aprendemos a desenvolver o espírito critico.