terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A MAGIA DA FALTA DE ENERGIA

O meu bairro quando está sem energia fica deste jeito, escuro, da mesma forma como a mãe natureza concebeu o mundo, antes do homem descobrir a magia de conservar o fogo e transformar a energia em luz. É um momento impar. Um show comparado a si mesmo.
É um fenómeno inspirador que nos tira do hábito de ver o céu sobre a luz artificial. Nos possibilita a lembrar da infância, a nos encontrarmos neste presente imaginário que nos possibilita sonhar com o futuro.
O céu azul contrasta com o escuro da noite, criando um fenómeno esplendoroso quando se junta ao cheiro de humidade do solo, criado pelo "pós chuva" que caiu ontem a noite e na madrugada de hoje.
Lembro das peripécias que criei na escola, desde a primária até à secundária. Na "escola nova" brincando de karaté em pleno dia 1 de Junho, ou do dia em que perturbei todo o cenário de sala de aulas para dar dinheiro de lanche ao meu saudoso irmão porque queria ver o rosto daquela menina que fazia o meu coração de criança se deleitar de tanto amor. Por isso, hoje em dia, nego quando uma pessoa diz que as crianças não se apaixonam.
Na Secundária da Polana, de trás das mangueiras, comprar BADJIAS e ver aqueles adolescentes jogando MUDLERERE (um tipo de batota em que se gira a moeda e a outra pessoa tenta descobrir se é cara ou coroa). Ou do dia em que Custódio perdeu a voz quando cruzou com aquela menina da luta continua. De Malhazine, lembro daquelas ruas largas e da casa do poço que se encontrava logo na esquina ou do dia em que quase desmaiava por estar cheio de tanto pão comer.
Tudo isso me vem a tona por causa desta falta de energia que faz da hora mais escura uma magia.
Mas também, este é um momento que da mesma forma que trás inspiração aos apaixonados magoados, aos poetas inatos e aos cronistas viciados em contar suas próprias histórias, também inspira os larápios para saltar nas gargantas das suas vítimas e tirar todos os seus pertences, até mesmo o seu bem precioso que é a vida.
Enquanto me embalo nesta viagem temporal entre o passado e o presente, eis que a energia volta e dissipa toda a magia criada na minha mente, que desliza em forma de ideias e transborda neste "Samart Keaker" da Vodacom. E, tudo volta a normal. As pessoas que como gotas passavam de mim sem me notar, agora, toda a hora gritam "Dom Filipe". Porá de ser tanto conhecido no bairro. Não posso escrever a vontade!

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