terça-feira, 15 de abril de 2014

O toque do Sino



O Sino tocava “ngele, ngele, ngele”. Era o ferro grosso e firme que beijava agressivamente o cariz pendurado no canhoeiro velho da escola. Ouvido o som, a gente caminhava as pressas para não atrasar no canto do hino nacional precedido pela fila indiana que fazíamos antes do cântico. A gente que morava perto da escola como eu tinha mais vantagens pois podia ouvir o som  e ainda poder dar-se tempo de tomar um copo de chá com um paizinho.
Antes de chegar na escola a gente passava de casa de uma senhora que vendia macoromado (pão colorido) e swichamossane (chamussas) para fazer as nossas pequenas marmitas. Chegados a escola, entoávamos canções de preparação que serviam também de compasso de espera aos atrasados. Mas também, aqueles que atrasassem eram sancionados com umas doridas pauladas de régua de madeira que ficava com vovô guarda.
“Marcha, marcha. Marcha, marcha companheira, marcha, marcha, eu posso bater os pés”- são uma das principais canções que a gente entoava sendo liderados pel@ senhor@ “prissori”. Depois das preliminares cantávamos o hino nacional e, por fim dirigíamo-nos para as salas de de forma organizada. Quando digo “sala de aulas” me refiro a sombra do canhoeiro. No chão recebíamos as lições do dia-a-dia. Nos dias em que chovia, a gente ficava em casa a assistir as águas que caiam em gotas e ouvíamos as chapas que namoravam a chuva fazendo um barulho que servia de música para os meus ouvidos de criança.
Depois da primeira lição, seja de português ou de matemática, saiamos o intervalo maior. Lá fora do recinto da escola a gente juntava dinheiro, comprávamos mais macoromado, swichamossane, swijeluane (gelinhos) e fazíamos o nosso banquete. Depois de comermos, íamos fazer as nossas brincadeiras. A maior parte de nós queria ser artista de filmes. Portanto, sabíamos que tínhamos de praticar o que via nos filmes. Brincávamos de Karatê, zotho (pega-pega) e muitas outras brincadeiras de infância.
No fim do intervalo retomávamos as salas (em baixo da mafurreira, lembrem-se) e seguíamos as lições. “O que é o ar, o que é o vento?” -São as principais perguntas de que ainda hoje me lembro. “O vento é o ar em movimento”- a gente respondia em uníssono para a alegria d@ professor/a que orgulhosa/o deixava transparecer o sorriso branco amarelado dos seus dentes.
Finde a lição, o Sino tocava novamente para nos lembrar que já estava na hora de rumar para casa. Ai a gente gritava “hehehehehehe”. O barulho pululava toda a mafurreira que deixava cair as matomanas e folhas secas no seu processo de reavivamento. Chegados a casa, aguardávamos novamente pelo toque do Sino para nos lembrar das lições e para que um dia não nos esqueçamos d@ menin@ feliz que um dia fomos.


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