quarta-feira, 25 de março de 2015

                                                     Tenho uma filha


Tenho uma filha de olhar sereno e penetrante, de cabelos longos e escuros. É uma menina esperta, enérgica e brincalhona. Tem uma pele macia que lembra o toque de uma nuvem branca a deixar cair gotas de chuva em pleno sol de verão refrescando a quem alcança.

Não me canso de brincar com ela, pois, quando estou ao seu lado sinto-me protegido dos fantasmas que invadem a mente de adulto que tem medo de sonhar. Ao lado de uma criatura linda, indefesa, sinto-me o homem mais feliz do mundo. Mas também, que ser é esse que não ficaria tão fascinado com a sua primeira sorte?
Nas nossas conversas fala línguas estranhas, que não são do meu entendimento. Mas quando paro, olho no fundo dos seus olhos redondos e escuros vejo um mundo brilhando, vejo sonhos se criando nos braços protegidos do pai. Segura de que nada a pode abalar perto do pai coruja, me passa a mão pelo rosto, toca nas barbas picantes e sorri como se dissesse “Gosto muito de si pai, obrigado por me proteger”.
No mesmo momento em que estas coisas emocionantes acontecem, um medo avassalador invade a fortaleza da minha mente. Começo a pensar no mundo fora que desprotegida a minha filha irá caminhar. Tenho medo do que pode acontecer nesta sociedade patriarcal, receio do mundo chato em que a minha filha vai estar. Tenho medo de assassinos, violadores, homens sem escrúpulo que fazem cálculos farejando as fraquezas das suas vítimas que violam depois assassinam. Tenho medo de tudo e certeza de nada, numa sociedade em que discursos incendiários mergulham o meu país num futuro incerto e sem mérito. Onde a cada dia, uma vítima é assassinada. Nisso uma lagrima cai inundando o chão que um dia a minha carne vai comer. Uma cratera enorme de tristeza em mim se cria. A nuvem branca que antes chamara a chuva que traz bonança, muda de cor e chama outras nuvens negras que em uníssono gritam palavras ensurdecedoras que molham e inundam os sonhos de paz que tenho para a minha filha.
Depois de tudo, ergo a cabeça e mergulho na realidade. A consciência é chamada a razão. Ergo as mangas da camisa cumprida que cobrem os braços de um pai trabalhador empenhado em fazer crescer a sua filha para ser independente, desimpedida e dona de si. Mesmo tendo a certeza de que tudo é um sonho, vou a rua e espalho a boa nova, como o Méssia fez com os seus apóstolos. Espalho a mensagem para outros homens e a sociedade no geral para a mudança de comportamentos e atitudes, de modo a que construímos um mundo de paz, de harmonia, solidariedade, igualdade e equidade.
Apesar de ser um sonho, continuo a lutar até mesmo neste momento ao partilhar este sonho consigo que estas a ler este texto torto, com muitos erros, mas com a certeza de ter tocado em alguma coisa que em ti existe: “Consciência”.

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