segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

UMA VOLTA EM TORNO DO PAPEL DA GRETCHE DA NOVELA O AMOR À VIDA

Espero que não me apelidem de “amador assíduo das novelas”, mas posso revelar que de quando em vez, me dou tempo para ver outras realidades que nos são trazidas em jeito de novelas. A propósito, ontem assistindo o “Amor à vida”, achei interessante uma situação que merece uma profunda reflexão. 
Aqueles que estão dentro do assunto poderão perceber melhor aquilo que estou a falar neste momento, mesmo os que nunca viram esta novela, vão concordar com algumas das conclusões a que cheguei. Com isso, acredito que conhecem a Grete (Gretche para brasileiro), a negra que tem HIV/SIDA, que é discriminada por ser portadora deste vírus. Nesta situação, o preocupante é que o maior número de personagens que saem nesta novela é de brancos. Caso a memoria não se desassocie de mim, apenas dois negros é saem nesta, a própria Grete e mais um menino cujo nome não posso precisar neste momento. Mas com certeza, as suas histórias se cruzam por desempenharem um papel que considero de pessoas desfavoráveis e vulneráveis. Uma precisando de adopção e a outra infectada pelo vírus de HIV. Contudo, o que interessa neste momento é discutir o papel da negra Grete. Como é que se explica a única mulher negra que sai na novela, também seja a única portadora da doença? Qual é a realidade implícita detrás disso?

Na verdade, isso nos quer revelar que mesmo no Brasil que é considerado a terra da “democracia racial”, denunciada pelo Emicida, através de um vídeo que circula na internet, o HIV e a pobreza tem um rosto negro. Que as mulheres negras são consideradas as propagadoras do HIV para os homens brancos. Hora vejamos, de todos os homens com os quais esta personagem saia à cama, não havia nenhum negro, apenas eram homens brancos. Se calhar a novela queria passar outra mensagem, mas errou no taco. Será que não podiam dar o privilégio a única negra ter um papel diferente? Na verdade isso espelha a realidade de muitas novelas, o papel dos negros é sempre banal e medíocre e, isso ajuda a perpetuar a discriminação, primeiro do negro, segundo do negro vivendo com o HIV/SIDA e, terceiro sobre as mulheres negras. Isto é o que posso chamar de tripla discriminação (é uma conclusão pessoal).Como se não bastassem estas situações todas, o mais chato, é que cá em Moçambique quando as pessoas consomem estas novelas, não lançam um olhar crítico sobre as historias retratadas. Assistem o flagelo da sua própria raça (ou cor, como dizem que apenas existe uma única raça) de ânimo leve. É preciso despertar a consciência crítica. Olhar as coisas com outros olhos, com os olhos de querer alterar a realidade sobre o risco de continuarmos a criar um mundo onde apenas haverá desafios para as gerações vindouras.

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