Em todas histórias de vida dos heróis de cinema, ou melhor, de animes
que conheço, há sempre uma tragedia, uma nuvem negra assombrante. Um
passado que lhes persegue. Um vazio que tentam preencher com o seu
heroísmo. Me iria perder com a avalanche de exemplos caso quisesse
mencionar todos eles neste pequeno texto. No entanto, é de conhecimento
de todos que o grande Super Herói, o “homem de ferro” (Kal Al) ou Clark
Kent como é conhecido na terra, vem de um planeta distante e aqui caiu
por um mero acidente do destino. Os seus pais, a sua família e quase
toda a raça foi extinta na explosão de Krypton. Agora, imagina se isso
acontece consigo. De toda a humanidade seres o único para contar a
história do teu planeta a uns seres que para si parecem formigas. Apesar
do poder que possas ostentar, acredito que isso não faria com que
sentisses realizado. Haveria algum lugar, um momento, uma pausa para se
auto consolar da perda irreparável do passado.
Vamos também analisar
a história do Bruce Wayne, o homenzinho que tem medo de morcegos. Os
seus pais são barbaramente assassinados a queima-roupa na sua frente. Um
rapaz muito rico, órfão de pai e mãe. Larga tudo para se exilar em
terras distantes. Apesar disso, dá a volta por cima e se torna o grande
herói da cidade de Gotham. Aclamado pelos citadinos da “Gotham City”,
leva vários delinquentes e criminosos às malhas da justiça. Todavia,
nisto tudo, será que esse reconhecimento do seu heroísmo preenche o
vazio que sente pela perda dos pais? Será que todos da cidade de Gotham
tem orgulho deste heroísmo? Será que quando está sozinho, aquele
episódio que viu na infância, não lhe vem a flor da pele? São perguntas
que nos podemos fazer e a sua resposta pode não caber neste testo.
Avançando mais, outro herói que merece a nossa atenção, é o Piter Park, o
homem aranha. A história dos seus pais não é bem clara, mas nota-se
logo o amor que sente pelos seus tios (Bem e May) que, por um fatídico
incidente, acaba por perder um destes (tio Ben). Ele assiste a morte do
seu tio sem ter como lhe socorrer depois de um desentendimento entre os
dois. Identificando o assassino do tio, usando os poder que tem, decide
se vingar e acabar com todos os “fora da lei”. Aqui também, as perguntas
são similares: Será que, as teias de aranha e o amor da sua amada Mary
Jane, conseguem cobrir o vazio do seu coração pela perda dos pais e do
tio?
É verdade que todos estes são personagens de ficção científica
e, por isso, não deixaria de falar do Naruto. O herói controverso dos
animes japoneses. Aquele rapaz que hospeda dentro de si, a Kyuubi presa
pelos nove selos. Os pais que heroicamente morreram para salvar Konoha,
a vila da folha. Mas mesmo assim, luta contra tudo e todos para se
tornar o Hokage, herói da sua vila. O que por um esforço acrescido
acaba conseguindo depois de travar inúmeras batalhas. Também, tanto
quanto os outros, apesar da sua perspicácia e heroismo, não deixa de
sofrer com os fantasmas do passado. A memória de ser um renegado na
vila. O rapaz monstro que alberga a Kyuubi o incomoda sempre que está
sozinho.
Como já havia dito, são vários nomes de heróis que poderia
arrolar. Mas o importante para mim, não é poder contar quantos heróis
existem nos animes, mas sim, perceber o que nos tentam transmitir com a
sua história de heroísmo. Que o passado sórdido e humilde pode ser o
estopim que faz a combustão dos nossos sonhos queimar. Que não importa
qual passado tenhamos, podemos ser capazes de dar a volta por cima e
enfrentar os nossos fantasmas, apesar de que eles podem continuar nos
assombrando por toda a eternidade. Tentam nos ensinar que até os grandes
heróis tem seus medos, mas os enfrentam de frente e os ultrapassam. Nos
ensinam que o herói pode ser qualquer um: órfão, rico até pobre. O que
importa não é o passado, mas sim o que fazemos dele para melhor a nossa
vida e a dos que nos envolteiam. Portanto, o herói não só existe nos
animes, mas sim, também na vida real. O herói somos todos nós, quando
acordamos bem cedo para ir trabalhar, quando lutamos para melhorar a
nossa família, quando ajudamos uma criança a atravessar a estrada ou até
quando cedemos lugar para uma pessoa idosa ou doente sentar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comente