terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Pic-Nic na Minha Igreja

 Os irmãos da igreja passaram da minha casa pelas primeiras horas da manhã, conforme o combinado. No semblante dos seus rostos vislumbrava-se a satisfação da chegada daquele dia. Fazíamos o compasso de espera  nos preparando espiritualmente e emocionalmente sobre o que faríamos no evento. Não passava um dia se quer, sem que a gente falasse do que cada um de nós faria naquela data tão especial que se aguardava a sua chegada já a um tempão.
Saímos de casa eram nove e tal da matina. O sol de verão rondava os seus trinta graus e alguma coisa . Era como se Deus tivesse calibrado bem os desejos da imponente mãe natureza. Pegamos o chapa (transporte semi-colectivo) na esquina do compone rumo à baixa da cidade com intuito de chegar ao campo de maxaquene. Naquela mini viagem, entoávamos canções de louvores como em outros encontros religiosos que a gente realizava.
Descemos do chapa. Chegados a maxaquene, contemplamos um cenário que os olhos não queriam acreditar. Aquilo era um populaço de gente. É muito raro ver um montão de pessoas aglomeradas no mesmo recinto e acima de tudo com o mesmo objectivo. Não estávamos habituados e preparados para encarar aquela quantidade de gente. O campo havia transbordado de pessoas. No recinto principal não havia mais espaço para passar, muito menos para ficar e recuperar o fôlego da viagem. No entanto, dirigimo-nos para o campo de futebol. Encontramo-nos com o nosso pai subdiagono, sacerdote e os demais irmãos da igreja.
Tendo em conta que eu e a maior parte dos irmãos da polana “A”, comunidade a que pertenço, não gostávamos de futebol, com escepção do Celestino. Celestino é um jovem cumprido, meio claro de cor. Nos casamentos em que a gente participava,  gostava de limpar os pratos caso a gente não conseguisse acabar a comida que era nos  servida. Por outro lado, era um jovem muito afetuoso. Gostava de visitar os irmãos e  conversar. Ao ver irmãos da outra comunidade a jogarem futebol, este, aprontou-se de calções e separou-se da gente, dando entrada ao campo para chutar na bola.
Eu e os outros dois irmãos com os quais viemos decidimos dar algumas voltinhas para poder conhecer outras irmãs. Toda volta dada e nada. Nos faltou coragem para abordar as pessoas com as quais cruzávamos pelo caminho. Em fim, decidimos chegar dentro do pavilhão principal para desfoguear a curiosidade que residia em nossos corações. Lá chegados, vimos que a entrada estava a rasca, estava cheia de pessoas que entravam e saiam. Lutamos e nos enfiamos lá dentro graças a persistência e a vontade efervescente que queimava na combustão do desejo dos nossos corações, transbordando para os de fora através dos nossos olhos.
Finalmente dentro do pavilhão, voltamos a não acreditar no que víamos. Dentro deste recinto, estava mais cheio do que lá fora no próprio campo. As pessoas, umas se puxavam com corda, enquanto outras a pulavam. Havia, todavia, outra gente que fazia brincadeiras que a boca não pode conseguir relatar. Sem nos apercebermos, estávamos dentro daquelas brincadeiras que a idade nos condenou de praticar. Para mim particularmente aquilo serviu como forma de voltar ao passado. As brincadeiras que eram feitas remetiam-me à velha infância. Brincava-se de “zotho”, entoavam-se cânticos infantis e puxava-se a corda.
Portanto, eu que me gabava de ter músculos, fui atrás da corda. “Puxa ai desse lado, estão a nos pesar!” falavam os fazedores da brincadeira. Nem deu para prestar atenção no vencedor, pois o que importava naquele momento era se divertir sem os complexos de adultos.
O Ernesto, que era um irmão que “aparentava ser fino de fora”, por causa das piadinhas que mandava. Tinha umas unhas enormes, que pareciam dalgum conto de bruxas. Não era alto nem tão baixinho. Todavia, era um cara divertido e sensato. Pretendia brincar de puxar a corda. Entretanto, na primeira tentativa que empreendeu, foi mal sucedido. A corda quase lhe partiu as suas protegidas unhas. Mas no final conseguiu entrar na roda.
Quanto ao Jexone que igualmente fazia parte dos irmãos com os quais saí de casa, foi se integrar na brincadeira do comboio. Este, por sua vez, tinha uma presença muito intensa, a cara coberta de espinhas. Andava com uma toalhinha que servia-lhe de calmante. Quando sentia as suas borbulhinhas a coçarem-lhe a cara, passava a sua toalhinha no rosto e se aliviava. Tinha uma cara escura parecida com a noite sem lua e sem estrelas. O queixo pontiagudo lembra as extremidade de uma mesa. Falando de seus atributos internos, era um cara de poucas palavras, com uma voz suave, tinha amor de um anjo, bastava ver a forma como comunicava e se preocupava com os irmãos. Este foi praticar ginástica.
De outro lado do pavilhão, estavam outros irmãos da igreja, pertencentes a comunidade da B2.  Tentamos chegar perto. Contemplamos o Chandinho e o Dino. Por sua vez, Chandinho era meu vizinho, amigo e irmão da igreja. Tinha uma cabeça enorme como a minha, porem quadrada, visto que a minha é redonda. A sua cara tinha uma claridade como o tomate vermelho de Boane. Nesse dia, trajava calções vindos de Djoane (África do sul), chinelos e um interior branco. Como sendo meu amigo próximo, fui atrás dele para saber como estava e tentar perceber como estava achando o cenário que estava assistindo. Falou que estava bem, mas também, verifiquei que estava meio tocado (bêbado). Por seu turno, o Dino que também trazia calções e parecia bêbado, se juntou ao amigo e foram se encaixar na sua tocaia.
Para completar, naquele dia cruzei com uma miúda chamada Avanalia. Era uma tipa baixinha, com lábios carnudos, clara, conversadora e sugestiva. Já conhecíamo-nos desde a um bom tempo. Ela fazia parte da comunidade de mini Golf. A tardinha quando o sol começava a se despedir e a escuridão abraçando a cidade. Desapeguei do campo com a companhia da Avanalia. Aproveitamos a companhia que proporcionávamos um ao outro para apreciar a cidade. A miúda conversava muito bem. Estar na sua companhia era delicioso. São poucas vezes que a gente encontra pessoas que nos correspondem. Mergulhados na conversa, chegamos na paragem dos chapas sem nos apercebermos. Portanto, apanhamos um chapa juntos, abraçamo-nos  e rolou o primeiro beijo dos pombinhos. Descemos do chapa. Passamos da minha casa para que pudesse mostra-la onde vivo de modo a que nos próximos encontros fosse fácil nos localizarmos. Finalmente acompanhei-a para sua casa,  dei-lhe um beijo de despedida. Foi demorado, porem. Vim-me embora para casa, e entre quatro paredes contei-me a mi mesmo o quão feliz me sentia e quanta gratidão sentia pela vida por ter merecido viver aquele momento colossal.
Este foi um dos eventos mais marcantes da minha vida. Experimentei várias experiências num só dia. Foi uma passagem nutrida de emoções e encantos. Sete anos passados, redijo estes momentos e sinto-os como se fosse o dia que os vivi. As pessoas que estiveram envolvidas dentro disto, mesmo aquelas que não foram mencionadas jogaram um papel preponderante, pois, este momento não teria sido o mesmo se cada uma delas não tivesse se colocado no seu lugar a seu momento.

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