segunda-feira, 23 de junho de 2014

Se o tempo retrocedesse



Se eu voltasse atrás na minha infância reluzente. Naquela puerícia rebelde e inocente, onde as brincadeiras não tinham tempo para findar. Aquele tempo em que a noite era uma eterna ansiedade, aguardando a chegada do outro dia que não acabava na noite interminável. Se eu pudesse, voltava naquele tempo em que o céu azul podia pairar sobre as nossas cabeças, onde a trovoada podia levantar-me e me levar para onde ela nasce. São esses tempos que emocionam de recordar. Os tempos passados.
Queria poder voltar naquele tempo em que o medo em mim não tinha lugar. Onde o dia só nascia para nadar no viveiro, depois roubar manguinhas e come-los com sal a gosto. Voltaria também naquele dia quente que estreei o meu primeiro biquinho comprado a quinze meticais da antiga família do metical, ou naquele dia em que comprei chinelos e tive que enterra-los no areal de modo a que não fossem roubados naquela praia infestada de gente, entre casais, moluenes e maziones que queriam purificar as suas almas com a água do mar.
Podia também voltar aos encontrões que tive de realizar na tentativa de conquistar o primeiro amor da minha vida que nunca tive. Mas só a tive nas noites, nos meus sonhos molhados da adolescência. Apesar de nunca a ter possuído nos meus braços existenciais. Com ela passei grandes momentos maravilhosos sem comparação. Aprendi muito com aquela experiencia. Pude perceber que não é só sexo que importa numa relação, mas sim, a amizade sincera e companheira.
Gostaria de retroceder o tempo e correr com o Xinguerenguere naquele dia chuvoso onde gotícula de combustível de carros se misturava com a água da chuva que depois a poluía. Lembro da explicação que meu vizinho Matxenguene dava para aquela combinação provocada pela mãe natureza com os feitos humanos- “Não podemos pisar aquela gota, pois ao pisarmos, podemos entrar naquela pinga e nunca mais voltar a sair.- Explicava”
Sabe, não lembro quando é que deixei de ser criança, de gozar daquela inocência luzente e sincera. Por isso até hoje as pessoas me têm achado cheio de brincadeiras e as vezes pouco sério porque não quero crescer e deixar a criança que tem dentro de mim sair. Neste aspecto, lembro do Dércio quando evocava o seu ditado, não sei de onde o extraiu “O importante é crescer, mas nunca deixar a criança que tem dentro de nos sair.”

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