terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O MOLESTRADOR MAIS INSANO

Quando a tarde da sexta-feira começava a camuflar o calor intenso que se fazia sentir durante o dia, Teresane, preparava os seus pertences para se despedir dos patrões chineses que alugaram uma flat (apartamento) naquelas zonas da Baixa da cidade. Não via o tempo de sair e lutar com os chapas (transporte semi-colectivo de passageiro). Já que havia perdido a hora de apanhar o TPM. Para a sua surpresa, logo ao deslizar as escadas que a levam todos os dias ao vigésimo primeiro andar, viu o TPM a passar de sua frente. Aflita. Correu a gritar para o motorista:- Leva, levouuu – corria Teresane, como se fosse a Lurdes Mutola no auge da sua juventude vibrante – Nile parageeeee – continuou a gritar, correndo.
O motorista do TPM sentiu-se obrigado a parar o carro num sítio proibido, apenas para acudir Teresane naquela aflição terrível. Mas também, não aguentou ao ver aquelas curvas da jovem senhora, dançando ao ritmo da marrabenta sem música. Parou o carro.
- Depressa entra – gritava o cobrador - depressa, se não vamos te deixar – repetiu.
Se introduziu no interior do carro lotado de pessoas. Gentes de diferentes idades, profissões e histórias.
- Phocophela uya phambene (entre mais a frente) – gritava uma senhora de idade, com uma cara visivelmente maltratada pelo tempo e pelo calor. Tinha aspecto de uma vendedeira.
Teresane, respeitou a voz do comando. Se introduzindo mais para o interior. De repente, se viu rodeada, apertada de todos os lados com quatro homens. O que estava a sua frente era um senhor dos seus sessenta e tal anos. Os que a ladeavam tinham um aspecto incomodado. Cansados. Entristecidos e aborrecidos, como se tivessem carregado o sol nas costas. Quem lhes visse, de antemão diria que quando a hora mais escura chegar, não iriam responder as suas responsabilidades maritais, satisfazendo os prazeres de baixo das suas esposas. Agora, o homem que estava atrás da Teresane, parecia agitado, como se não tivesse bebido o remédio da lua. Mas o traje formal que trazia afastava de si, todo o pensamento de desconfiança que pairava sobre a cabeça da jovem senhora.
- Porque é que este jovem senhor está agitado? – Pensava ela – talvez teve um dia pesado, ou talvez recebera uma notícia triste – conclui Teresane no seu monólogo.
O que ela nunca imaginou foi que o seu corpo despertava a atenção de todos os homens nos lugares que frequentava. Como se não bastasse, o ultimo emprego em que trabalhava, teve que o abandonar por conta do assédio que sofrera por parte do chefe, que depois a acusou de furto. Apanhando dai um subterfúgio para a sua expulsão desta. No entanto, Teresane era uma pessoa de princípios sólidos. Uma mulher de fibra. Que preferia desafiar todas e todos para defender o seu corpo e as suas ideias. Mesmo quando recebeu a nota de culpa, ela foi até ao fim do problema até ganhar a causa que lhe rendeu uma boa indemnização.
Contudo, quando o TPM cruzava a estátua de Eduardo Mondlane e a avenida com o mesmo nome, na zona do Alto Maé, mais um avalanche de pessoas veio encher o carro que se dirigia à “CMC Guava”, onde a jovem senhora e outros ocupantes do machibombo viviam. Entre os apertos e não apertos, Teresane notou uma coisa estranha. De trás das suas saias, onde se posicionava o jovem senhor, começou a sentir um relevo estranho e um respirar agonizante. O jovem se mostrava aflito, atónito, como se um fogo incendiasse o seu corpo. Para se aliviar, o jovem abriu o zipe das calças, como se criasse uma válvula de escape para o fogo que o incendiava. Com estes movimentos todos, Teresane se concentrava para poder perceber o que se estava a passar. Contudo, ninguém era capaz de ler os seus pensamentos. Enquanto isso, de repente, sentiu uma mão a lhe entranhar a saia media que vestia. Pouco a pouco, a mão subia. Agora estava a afastar a calcinha da jovem Teresane. De repente, do nada, Mavassane sentiu um pénis gordo e forte invadindo as suas saias como se fosse um mineiro a procura de um tesouro.
- Wani manha maquedze (está a me apertar os testiculos) – Gritava uma voz masculina agonizante.
Um minuto de silêncio. Não se ouvi nem um suspiro. Todos queriam perceber o que se estava a passar e de onde é que vinha a voz que gritava de aflição. Foi quando se ouviu a voz grave de Teresane:
- Pensava que u yedla yine – gritava Teresane, sem poder conter as palavras que a maneira se misturavam entre o português e o changana. Enquanto isso, a mão direita segurava a máquina dos prazeres de baixo do jovem senhor. Os dois testículos com o respectivo pénis estavam presos nas mãos da Teresane.
- Não tem vergonha, esta tarde. Queria violar alguém dentro do chapa – gritava uma voz dentro do carro – Satana – continuou a voz que nem deu para se notar se era de um homem ou de uma mulher.
- Motorista, vamos à esquadra – gritava uma outra voz. Desta vez, com certeza era de um homem
Sem mais delongas, o chapa desviou da praça dos Heróis em direcção à esquadra de Mavalane. Chamou-se a polícia. De imediato, veio prender o molestador com a mão na botija. Ou melhor, o seu pénis e testículos nas mãos da Teresane.
O resto da história que se sucedeu ninguém sabe contar. É caso de polícia.

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